OPINIÃO. O que aconteceu no Mónaco, Madrid e Roma aconteceu. Agora estamos em Paris. E então?

OPINIÃO. O que aconteceu no Mónaco, Madrid e Roma aconteceu. Agora estamos em Paris. E então?

Por Pedro Gonçalo Pinto - maio 26, 2021
Nadal
BARCELONA, SPAIN – APRIL 25: Rafael Nadal of Spain celebrates after winning match point during his Men’s Singles final match against Stefanos Tsitsipas of Greece on day seven of the Barcelona Open Banc Sabadell 2021 at Real Club De Tenis Barcelona on April 25, 2021 in Barcelona, Spain. (Photo by Quality Sport Images/Getty Images)

Estávamos no ano de 2019. Uma pandemia que parasse o mundo estava longe dos nossos maiores pesadelos e o ténis caminhava de forma natural, como sempre, para mais uma edição de Roland Garros. Rafael Nadal ‘só’ tinha 11 títulos conquistados em Paris e era esse o ano em que parecia estar a dar sinais de fraqueza. Afinal de contas, foi eliminado nas meias-finais de Monte-Carlo, Barcelona e Madrid por Fabio FogniniDominic Thiem Stefanos Tsitsipas, respetivamente, algo que fez soar os alarmes… rapidamente desligados por aquela já lendária tirada do maiorquino numa conferência de imprensa em Roma. “O que aconteceu em Monte-Carlo aconteceu, o que aconteceu em Barcelona aconteceu, o que aconteceu em Madrid aconteceu. E agora estamos em Roma”Pois foi.

E o que aconteceu a seguir foi ganhar o Internazionali BNL d’Italia, batendo Novak Djokovic na final, antes de somar mais um troféu de Roland Garros para a estante lá de casa. Ora, de certa maneira, estamos de regresso a esse cenário de 2019. Com a agravante de ter sofrido uma lesão no início da época, o que o fez chegar à terra batida apenas com o Australian Open nas pernas, Nadal não pareceu tão dominador como é habitual. A dúvida cresceu com a derrota frente a Andrey Rublev em Monte-Carlo e quase assumiu outros contornos em Barcelona, mas Tsitsipas não aguentou a final de 3h40. Só que acentuou-se novamente com o desaire claro aos pés de Alexander Zverev em Madrid. Lá voltava a tirada de Nadal.

Chegávamos, então, a Roma. Nadal esteve olhos nos olhos com a derrota diante de Denis Shapovalov, mas encontrou forma de sobreviver e talvez tenha desbloqueado a época de terra batida nesse encontro. Pode parecer exagerado, mas um trambolhão nos oitavos-de-final em Roma seria uma das bandeiras mais vermelhas que se poderiam mostrar ao touro de Manacor. A questão é que saiu desse buraco e acabou por derrotar Novak Djokovic na final. Então, vamos lá. O que aconteceu em Monte-Carlo, Madrid e Roma aconteceu. Agora estamos em Paris. E então?

Ninguém ousa dar o favoritismo em relação a Roland Garros a outro ser humano à face da Terra que não a Nadal. E a verdade é que, por muito que jogadores como Tsitsipas, Zverev ou Thiem vejam que o espanhol não parece tão imbatível e dominador, o caso muda de figura em Paris. Um pouco como muda quando se olha para Novak Djokovic na Austrália. Arrisco-me a dizer que Nadal podia chegar a Roland Garros sem uma única vitória na época que seria sempre o favorito e iria reunir, de qualquer das formas, um enorme respeito que resvala em medo dos adversários. É que ‘inventar’ uma forma de ganhar três sets ao maiorquino em Paris é obra. Se é possível cair? Obviamente. Se é provável? Pouco.

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É inevitável reconhecer que, um dia, o testemunho vai mudar de mãos, mas a resposta dada por Nadal em Roma teve um peso enorme e ainda significou mais por ter sido dada frente a Djokovic na final. O sérvio tem todos os motivos para sentir que esta pode ser uma das melhores oportunidades dos últimos para roubar o troféu a Nadal em Paris, algo que vai tornar o torneio ainda mais entusiasmante. Mas voltamos à história do ano passado, por exemplo. Parecia ser o ano perfeito para Djokovic e Nadal reafirmou o favoritismo.

Mais do que técnica, do que táticas ou até capacidade física, a barreira psicológica é gigantesca. Djokovic lidera a armada para derrubar Nadal, com Tsitsipas, Zverev e Thiem logo atrás a quererem entrar na ação também. Será que algum deles terá essa força mental para colocar dúvidas na mente do tenista espanhol? Jannik Sinner e Shapovalov colocaram essas dúvidas em Roma, mas Nadal soube apagá-las à base da força e da experiência. Resta saber se esse monstro psicológico com que Rafa joga do seu lado vai voltar a esmagar os sonhos e objetivos do resto do circuito. E desengane-se quem pensa que o talento puro dos miúdos pode chegar para sorrir. Ou é preciso lembrar que Djokovic deu uma lição a um Daniil Medvedev que parecia ter tudo reunido para ganhar na Austrália?

Acima de tudo, voltamos a uma premissa que tem assentado tão bem nos tempos que correm hoje em dia no mundo do ténis. Vamos sentar-nos e aproveitar. O que quer que aconteça será mais um pedaço de história e ver Djokovic a tentar roubar o trono a Nadal ou os mais novos a lutarem por alcançar um dos mais improváveis feitos na eternidade do ténis tem tudo para nos encher as medidas. O que aconteceu em Monte-Carlo, Madrid e Roma aconteceu. Agora estamos em Paris. E então?

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt