Roland Garros: o herói de guerra que dá nome a um Grand Slam

Roland Garros: o herói de guerra que dá nome a um Grand Slam

Por Tiago Ferraz - julho 25, 2020
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Imagem: site Roland Garros

O  Bola Amarela continua sempre à procura de mais histórias que suscitem curiosidade e possam fascinar todos os nossos leitores que nos têm acompanhado nesta aventura. Com efeito, viramos o foco para o Homem que dá nome a um torneio do Grand Slam: Roland Garros.

Sabia que, apesar do seu nome ser associado a um dos maiores torneios do mundo, o francês nunca foi tenista? Pois é. É algo realmente fascinante. Conheça a sua história.

Eugène Adrien Roland Georges Garros nasceu a 6 de outubro de 1888, em Saint Denis, França, e a história da sua vida não está, intimamente, ligada ao mundo do ténis. Confuso/a? Nós damos uma ajuda: a grande paixão de Roland Garros era a indústria da aviação e, nesse sentido, vamos desvendar a primeira ‘surpresa’: Roland Garros era, apesar de adorar ténis, uma das pessoas que mais contribuiu para o desenvolvimento da aviação francesa.

Em 1899, com apenas 11 anos, Roland Garros viajou até à capital de França, Paris, para iniciar o seu percurso no mundo dos estudos e acabou mesmo por se licenciar na HEC Business School, uma das melhores escolas de todos os tempos em França.

Dez anos depois, em 1909, com apenas 21 anos, Roland Garros, descobriu o mundo da aviação e ficou, simplesmente, apaixonado. Com efeito, em 1913, o jovem que já com 25 anos, conseguiu fazer algo que ninguém achava possível: atravessar o mediterrâneo de avião o que acabou por ser um feito que o tornou famoso e num piloto reconhecido a nível mundial.

Ao longo da sua vida, Roland Garros ficou também conhecido pela sua engenhosa capacidade para defender o seu país e por inventar algo que poderia ajudar França quando chegasse a altura do conflito: Roland Garros desenvolveu uma metralhadora que pudesse estar a bordo e que conseguisse disparar através da hélice o que foi algo, verdadeiramente, revolucionário na época.

Em 1914, ano do início da primeira Guerra Mundial, Roland Garros foi considerado o melhor piloto de aviação do mundo e resolveu ajudar o seu país no conflito e foi já no último ano da I Grande Guerra, em 1918, que Roland Garros perdeu a vida, com apenas 29 anos, quando o avião em que seguia foi abatido em Ardennes no dia 5 de outubro de 1918, véspera do seu 30.º aniversário já depois de, anos antes, ter sido capturado.

E por que motivo é que Roland Garros dá nome a um torneio de ténis tão conhecido? Tudo aconteceu no ano de 1928 quando a França ia jogar a final da Taça Davis em casa, defendendo o título que os quatro mosqueteiros René Lacoste, Jacques Brugnon, Jean Borotra, Henri Cochet conquistaram em 1927, e necessitava de construir um court para que o ténis fosse praticado no encontro decisivo da prova diante dos Estados Unidos da América e para que os gauleses tivessem todas as condições possíveis para defender um título desta natureza. Nesta época, existiam dois grandes clubes em França nos quais se praticava o ténis: o Stade Français e o Racing Club de France, mas ambos tinham estádios muito pequenos para que fosse possível utilizar qualquer um deles na final da Taça Davis.  Os presidentes dos respetivos clubes apresentaram um projeto tendo por base a construção de um novo estádio. Pierre Gillou, presidente do Racing Club de France, e Emile Lesieur, responsável pelo Stade Français reuniram esforços para ver quem ficava com a ‘obra’ e o projeto de Lesieur venceu. Com efeito, apesar dessa vitória, Lesieur contou com a ajuda preciosa de Pierre Gillou que, num enorme ato de fair play, resolveu ajudar no projeto vencedor ‘aliando-se’ a Lesieur o que deixou o plano ainda mais sólido.

No dia 8 de dezembro de 1927, com uma vontade imensa de levar o projeto para a frente, os dois uniram-se e encetaram esforços para realizar os seus sonhos e, juntos, assinaram uma concessão de 20 000 francos que tinha como objetivo garantir os terrenos necessários para começar a construir o estádio e, nesse sentido, ambos chegaram a dar como ‘moeda de troca’ bens pessoais para garantir que tinham condições para começar o projeto.

Ainda assim, Lesieur só dava os seus bens pessoais em troca de algo que, para ele, era fundamental: o estádio teria que ter o nome do seu amigo Roland Garros, um pioneiro da aviação e um herói que morreu na guerra pelo seu país. E assim o sonho tornou-se realidade: em apenas um ano, o court central de Roland Garros ficou pronto, corria o ano de 1928.

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Roland Garros em 1928. Imagem: site Roland Garros

Nesse mesmo ano os quatro mosqueteiros que já falamos viriam a conquistar mais uma edição da Taça Davis sendo que conseguiram manter o troféus por terras francesas até 1932 num local que se tornou talismã para René Lacoste, Jacques Brugnon, Jean Borotra, Henri Cochet.

E foi assim que o torneio de Roland Garros se tornou naquilo que é hoje: um dos maiores torneios a nível mundial a par do US Open, Australian Open e Wimbledon.

Atualmente, o torneio de Roland Garros, como na época, é o segundo major de cada temporada e o recordista de troféus é, como todos sabemos, Rafael Nadal com 12 conquistas na terra batida do major francês o que fez com que ganhasse a alcunha de ‘rei’ nesta superfície.

No final, apesar de Roland Garros não ter sido tenista, podemos dizer que o próprio estará sempre ligado ao mundo do ténis pelo facto de dar nome a um dos melhores torneios do mundo e deu o seu contributo, ainda que indiretamente, para que o ténis seja o que é hoje à semelhança de outros tenistas históricos como Fred Perry e Von Cramm, René Lacoste, Margaret Court entre muitos outros.

Jornalista de formação, apaixonado por literatura, viagens e desporto sem resistir ao jogo e universo dos courts. Iniciou a sua carreira profissional na agência Lusa com uma profícua passagem pela A BolaTV, tendo finalmente alcançado a cadeira que o realiza e entusiasma como redator no Bola Amarela desde abril de 2019. Os sonhos começam quando se agarram as oportunidades.