Medvedev: «Passava horas na PlayStation, deitava-me tarde e tinha cãibras ao fim de meia hora»

Medvedev: «Passava horas na PlayStation, deitava-me tarde e tinha cãibras ao fim de meia hora»

Por José Morgado - março 21, 2020
medvedev

Daniil Medvedev, de 24 anos, deu um incrível salto na sua carreira em 2019: ganhou dois títulos Masters 1000, chegou à final de um Grand Slam, estreou-se nas ATP Finals e entrou no top 5 pela primeira vez. Mas nem tudo foi fácil nos seus primeiros anos. Tudo porque a sua mãe queria que ele estudasse e não perdesse tanto tempo agarro às raquetas.

“Sempre houve um pouco de briga entre meu pai e minha mãe. A minha mãe queria que eu estudasse mais e foi por isso que eu estudei e joguei ténis ao mesmo tempo até aos 18 anos. Na Rússia, a maioria dos atletas profissionais termina de estudar por volta dos 12 anos de idade. Pode ter sido o motivo de eu não ser tão bom quanto os meus amigos durante algum tempo, mas eu não me arrependo”, confessou num longo texto para o blog ‘Behind the Racket’, um projeto do jovem tenista norte-americano Noah Rubin, que tem também um podcast.

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Medvedev, agora no quinto posto da classificação mundial, contou como as coisas não foram nada fáceis para ele nos primeiros anos. Houve muitos momentos difíceis antes da ajuda da federação e dos patrocinadores, quando não havia dinheiro suficiente. Houve partidas em que eu perdi e só pensava nos 100 dólares extras que eu poderia ganhar. O período mais difícil para mim foi a mudança de juniores para profissionais. Percebi bem rapidamente o quão difícil seria chegar de 700 a 300 no mundo. Era preciso economizar o máximo de dinheiro possível enquanto tentava ganhar cinco ou seis Futures o mais rápido possível. Na altura, eu estava perdido, não sabia como fazer aquilo porque havia muitos outros jogadores a tentar fazer a mesma coisa. Lembro-me de conversar com [Alexander] Bublik, enquanto jogámos um Future perto de onde eu morava, em França. Eu estava por volta de número 700 no Mundo e perguntei-lhe: ‘Como é que chegamos ao top 300, parece impossível?’ Até hoje, ele lembra-se dessa conversa e brincamos com isso quando nos vemos”.

Medvedev assume que só depois de alguns anos dentro do top 100 mundial sentiu que era, de facto, um profissional. “Mesmo depois de chegar ao top 100 pela primeira vez, eu sabia que, no fundo, não era profissional. Quando eu estava em court, dava 100%, mas fora do court eu não fazia as coisas certas. Deitava-me tarde, jogava horas de PlayStation e não me preocupava com as pequenas coisas. De 70 para o top 5 do mundo foi o salto em que decidi realmente dedicar tudo o que podia ao ténis. Eu quis finalmente encontrar os meus limites. Sei que as pessoas dizem que não há, mas eu quero mesmo testar e ver se encontro o meu. Esse foi o momento para mim. Lembro-me antes daquele grande salto em que jogava uma partida longa e perdia no dia seguinte só porque não conseguia mexer-me. Se falarem com algum dos meus colegas dos juniores, eles todos dirão que eu era quem tinha pior condição física. Tinha cãibras ao fim de 30 minutos em court.”

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Medvedev conta o que realmente mudou a sua vida e a sua carreira. “Foi o treino físico e a recuperação. E depois passei também a acreditar que o caminho que escolhi era o melhor. Deixei de ouvir tudo o que os outros diziam sobre mim, pois há sempre gente que vai dizer que fizemos isto ou aquilo mal. E insisto: nunca tive um ídolos. Sempre quis ser apenas eu próprio. Havia muito gente que dizia que eu não tinha potencial e mesmo que eu nunca tivesse chegado a top 10 mundial iria dizer a mesma coisa, que não tenho nem quero ter ídolos. Sou como sou. É por isso que eu tento manter a minha vida pessoal totalmente privada. As pessoas opinam sobre tudo. E eu não quero”.

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com