Martin Damm: "Derrotei o Alcaraz duas vezes nos juniores e não imaginei que ele pudesse ser tão bom assim tão rápido"

Martin Damm: “Derrotei o Alcaraz duas vezes nos juniores e não imaginei que ele pudesse ser tão bom assim tão rápido”

Por José Morgado - janeiro 12, 2024
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Martim Damm é um dos jogadores classificados para as semifinais do Indoor Oeiras Open 2, no Jamor. O norte-americano de 20 anos, de origem tcheca, cujo pai foi um excelente tenista nos anos 90 — chegou a enfrentar Roger Federer —, está pela quarta vez no top 4 de um torneio em Portugal, sendo a primeira vez num Challenger, depois de ter derrotado João Sousa.

FELIZ COM TRIUNFO SOBRE SOUSA

Acho que joguei um grande jogo, do primeiro ao último ponto. Enfrentar e derrotar o João Sousa em Portugal não é nada fácil. Tive uma pré-temporada longa, com muito trabalho físico, e estou me sentindo muito bem. Jogar indoors foi uma boa ideia para o meu jogo e para a minha confiança.

O SERVIÇO É FUNDAMENTAL

Meu saque é o meu jogo. Gira em torno do saque. Eu sei que não vou sacar sempre 20 aces e ganhar facilmente meus jogos. É difícil manter essa consistência. Mas eu sei que há dias em que posso estar jogando terrivelmente e ainda assim ganhar partidas. Vai haver momentos em que também vou perder por 7-5 e 7-6, mas com o serviço que tenho, estou sempre mais perto do tiebreak.

MAIS DE DOIS METROS DE ALTURA

Percebi muito cedo que ia ser muito alto. Aos 13 anos, a tendência já era essa. Há muitas vantagens e desvantagens por ser alto, e o mais importante, numa primeira fase, foi clarificar o estilo de jogo que eu gostaria de ter. Quando era mais jovem, queria ficar mais no fundo, e isso, obviamente, não funciona para alguém do meu tamanho. Depois, quando comecei a aparecer mais na rede, também não foi fácil nos primeiros tempos, porque é difícil aprender como nos posicionar na rede e ocupar os espaços. Ultimamente, deu-se o clique. Especialmente para os jogadores grandes como eu, a confiança é o mais importante

ISNER É INSPIRAÇÃO

Dou-me bem com o Isner, falamos muitas vezes e jogamos Fantasy NHL juntos. Somos próximos. Também tenho o Reilly Opelka como ídolo. Todos são grandes sacadores. Tenho a sorte de ter várias referências nos Estados Unidos. Conselhos? Lançar a bola, acertar nela e esperar que vá dentro! Ser canhoto também me ajuda, pois há alguns efeitos específicos e estranhos.

GRANDE GERAÇÃO NORTE-AMERICANA

Todos trabalhamos muito e queremos ser melhores do que os outros. Há muitos norte-americanos no top 30 e ter essa rivalidade saudável desde muito jovens é muito importante. Todos estão conseguindo derrotar os grandes jogadores.

OBJETIVOS PARA 2024

Quero manter-me saudável e jogar um bom tênis. Gostaria de participar de Roland Garros e Wimbledon. É um bom objetivo. Quero continuar melhorando, mas com calma, pois só tenho 20 anos. Quero continuar sendo feliz.

SONHOS PARA A CARREIRA TENÍSTICA

Toda a gente quer ser número 1 e ganhar Grand Slams, mas só uma mão cheia de pessoas é que conseguem fazê-lo. Gostaria de primeiro entrar no top 100, depois superar o ranking do meu pai [43.º] para ver se ele se acalma. Uma coisa de cada vez. Não vou dizer que quero ganhar 25 Grand Slams e ser melhor do que o Djokovic. Jogo pela minha felicidade. Ser top 50 do mundo já é um feito incrível.

DERROTOU ALCARAZ DUAS VEZES, INCLUINDO EM WIMBLEDON JUNIORES 2019

Nunca pensei que o Alcaraz viesse a ser tão bom. É impossível prever que um garoto vai ser número 1 do mundo aos 19 anos, mas a geração de 2002/2003 era muito boa. Musetti, Alcaraz, Rune, Cobolli, Passaro, Medjedovic. Havia muitos jogadores de grande qualidade. Nós não tínhamos noção do nosso nível naquela época. Eu derrotei o Alcaraz duas vezes, com o Rune estou 1-1 e éramos todos muito competitivos. Mas o Carlos foi o primeiro a ter grandes resultados no circuito principal e nos Challengers, chegando a meias-finais e finais. Quando o enfrentei, não imaginava que ele fosse ser tão bom, mas sabia que seria bom porque, enfim, você não é treinado pelo Ferrero aos 17 anos por acaso. Fico muito contente por ele, pois é uma excelente pessoa e um jogador incrível.

PAI FOI CAMPEÃO DE GRAND SLAM

Sem o meu pai, não seria jogador de tênis. Todas as minhas memórias de criança são ir a torneios com ele e jogar tênis. Jogamos muitos esportes, tanto eu quanto meus irmãos. Cada um seguiu seu caminho, e ele nunca me pressionou. Sempre quis que eu me comprometesse com algo, mas não tinha que ser com o tênis. Ele viaja algumas vezes, mas normalmente não. As coisas têm corrido bem assim.

O PAI ENFRONTOU FEDERER. E ELE, QUEM GOSTARIA DE ENFRENTAR?

Gostaria de enfrentar o Rafael Nadal no saibro e o Novak Djokovic no seu auge. Mas também queria voltar a enfrentar o Alcaraz e o Rune para ver o quão longe estou deles. Claro que às vezes é mais fácil enfrentar os jogadores de topo porque a pressão é menor. Dessa forma, quero perceber diante desses jogadores da minha idade que estão à minha frente o que me falta para chegar lá.

ÍDOLOS DE INFÂNCIA

O Nadal era o meu ídolo, por ser canhoto. Dessa forma, eu sempre comprava as roupas iguais às dele. O Roddick também. Não é falado o suficiente. Contudo, ele conseguiu coisas incríveis numa era difícil. É alguém que sempre admirei e é tremendo para o tênis norte-americano.

ENCANTADO COM PORTUGAL

Tudo em Portugal é bom. O futebol, a comida e a quantidade de torneios. Desse modo, é incrível ver isso. Sempre têm imensos torneios e bons jogadores. Ajuda quando se tem esse número de torneios.

 

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt