O homem que mandou Federer ir dar uma volta... de “bicicleta”

O homem que mandou Federer ir dar uma volta… de "bicicleta"

Por admin - abril 19, 2016

Ainda que tenha mais quilómetros nas pernas do que qualquer outro jogador no circuito profissional, não se pode dizer que Roger Federer seja propriamente adepto de bicicletas. Não das de duas rodas, mas daquelas cuja viagem termina com dois zeros no resultado e um elevado desgaste (ou reforço) na auto-estima.

Tendo dominado o ténis entre 2003 e 2008, o suíço foi o jogador com mais 6-0 aplicados apenas em duas temporadas, 2004 e 2006. Um registo humilde, se comparado, por exemplo, com o de Novak Djokovic, que se revelou o melhor a oferecer “rodinhas de bicicleta” em quatro ocasiões nos últimos cinco anos (2011, 2012, 2013 e 2015).

Quando se trata de receber “bicicletas”, o registo é tão remoto que é preciso pedalar até ao ano de 1991 para encontrarmos o suíço de 34 anos vergado por um duplo 0-6. A viagem é longa mas o Dia Mundial da Bicicleta e a história por detrás do resultado justificam o esforço. Ainda para mais, nós damos-lhe boleia.

Federer tinha dez anos quando, em agosto de 1991, fez uma curta viagem de Basileia até Pratteln, na Suíça, para jogar o seu primeiro torneio. O suíço preparava-se para disputar a competição sub-10, mas o número insuficiente de inscritos colocaram-no frente-a-frente com Reto Schmidli, três anos mais velho e dotado de uma envergadura física bem superior à sua.

A superioridade do seu pequeno-grande oponente não demorou a revelar-se dentro das linhas e o jovem Federer não chegou a registar o seu nome no marcador. “Só pensava em vencer o encontro”, contou Schmidli ao The New York Times. “Não me preocupei em ser simpático para ele, mas, se passasse por isso outra vez, eu deixava-o ganhar um jogo”, confidenciou.

Condescendência que o atual número três mundial teria, provavelmente, dispensado. Depois de ter aplicado uma “bicicleta” (termo também usado na Suíça) a Gastón Gaudio, em Xangai (2005), Federer foi questionado se já o tinha feito antes. “Não, mas eu perdi por 6-0, 6-0 uma vez, quando era junior. Não acho que tenha jogado mal. Na verdade, joguei bastante bem. Perdi por 6-0 e 6-0 mas não saí do court desiludido”, confessou à BBC.

Um relato demasiado cor-de-rosa por parte de Federer? Madeleine Bärlocher, a sua primeira treinadora no Old Boys Tennis Club, em Basileia, considera que sim. “Ele era muito mau perdedor. Depois de perder um encontro, às vezes, sentava-se na cadeira do árbitro a chorar durante meia hora. Os outros jogadores já estavam no clube a comer sandes, e ele continuava a chorar no court”, conta.

Comportamento de quem aprendeu, desde cedo, a não se contentar com pouco. Federer e Schmidli não voltaram a encontrar-se. Nem no court nem na estrada, com ou sem o campeão de 17 títulos do Grand Slam ao volante. A ideia, no entanto, não é descabida. É que o único adversário que atropelou Federer durante uma carreira que está próxima das duas décadas é agora agente da polícia. “Por muito que admire o Roger, teria de lhe passar a multa. Na suíça não há livre-trânsito”, avisou Schmidli.