Guga Kuerten: «Quando era miúdo sonhava jogar no Maracanã e chegar à Seleção!»

Guga Kuerten: «Quando era miúdo sonhava jogar no Maracanã e chegar à Seleção!»

Por Pedro Gonçalo Pinto - junho 10, 2021
Gustavo-Kuerten

Há exatamente 20 anos, Gustavo Kuerten vivia um dos dias mais felizes da sua vida. E o Brasil ia atrás e fazia uma enorme festa. É que Guga conquistava o terceiro e último título em Roland Garros na sua carreira, num marco muito especial e que deixa saudades. O próprio brasileiro, agora com 44 anos, não esconde que Paris se tornou numa cidade muito importante e diferente na sua vida.

“Quando era miúdo sonhava jogar no Maracanã e chegar à Seleção! Não sonhava com o ténis e com a forma como o povo francês ficou tão ligado a mim. Vou todos os anos a Paris e a Roland Garros. Tento entender um pouco o porquê destes sentimentos fantásticos e a ligação. Roland Garros faz esta enorme aliança entre nós. Se as pessoas têm saudades minhas, eu tenho ainda mais de Roland Garros! É como se fosse a minha família e jogava em casa”começou por contar numa conversa com alguns jornalistas e na qual o Bola Amarela esteve presente.

A recordar a caminhada rumo a esse título em 2001, Guga Kuerten lembrou o duelo com Michael Russell, em que esteve a perder por dois sets a zero e com um pé fora do torneio. “O grande momento do torneio foi o jogo com o Michael Russell. Estive a vê-lo há uns dias. Fiquei muito surpreendido porque na minha mente não joguei muito bem, mas quando vi outra vez, vi que ele estava espetacular, a fazer-me correr, em vez de eu controlar o jogo. Deu-me uma lição em court durante quase três sets. Ele merecia ganhar, mas não aconteceu porque era Paris e era mágico para mim. De alguma maneira, toda a atmosfera desde o dia em que entrei lá aos 15 anos e ainda estou ligado, fizeram-me acreditar nestes feitos impossíveis. O público fez-me voar e tornei-me imbatível de um jogo para o outro. Se pudesse escolher um único momento na carreira seriam aqueles segundos mágicos. Fez-me ficar muito emocionado ver esse encontro outra vez”, destacou, lembrando o dia em que desenhou o coração na terra batida que se tornou inesquecível.

Kuerten tornou-se número um do mundo e viveu tempos gloriosos. Mesmo por isso, será que fica contente por não ter tido de apanhar Rafael NadalNovak Djokovic Roger Federer no auge? “As sensações são cada vez mais distantes e o pensamento também se afasta. Mas há 10 anos eu sentia as relações ainda próximas, a pensar como seria e que bom seria desafiar todos eles. A experiência de jogar com Nadal em Roland Garros é um presente formidável e um pepino gigantesco! Mas como tenista é o que nos move para encontrar força, capacidade, superação e tudo isso. Teria muitos anos para enfrentá-los se tivesse a carreira com continuidade natural e sem o problema físico. Deixaram de acontecer umas experiências fantásticas na minha vida. Se pensar de uma maneira objetiva, quanto mais jovem, mais precoce eu desafiasse, teria uma maior vantagem e ao longo do tempo virava. Hoje o ténis é muito diferente de há 20 anos. A capacidade que têm hoje de batalhar horas e horas numa perfeição extraordinária… Dá uma reverência ainda maior. Esse trio de Nadal, Federer e Djokovic é possível que nunca mais vejamos nesta dimensão tão fantástica, com um império grandioso, uma dinastia soberana. É estranho ver isso no ténis e formidável. Que bom que vim antes! E não tive de encarar esse trio!”, rematou.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt