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Entrevista a Boris Becker: «Acho que o meu ciclo enquanto treinador está fechado»
Com o US Open à porta, chovem muitas previsões para aqueles que podem vir a ser os campeões do último torneio do Grand Slam da temporada. Antes do arranque do evento nova-iorquino, que tem início a 27 de agosto, o Bola Amarela participou numa entrevista de grupo a Boris Becker, em parceria com o canal televisivo Eurosport – que vai voltar a cobrir a prova diariamente e do qual o alemão faz parte do lote de comentadores -, e ficámos a saber quais os seus favoritos para conquistar o troféu. Isso… e muito mais. Será que o atual diretor do ténis masculino germânico voltaria a treinar Novak Djokovic? Leia e descubra.
«O FAVORITO PARA GANHAR EM NOVA IORQUE É O RAFAEL NADAL»
Aquele que é considerado o ‘big four’ vai estar em Nova Iorque. Acha que eles vão todos estar em jogo na segunda semana e um deles, quem sabe, vai levantar o troféu de campeão?
Boris Becker (BB): Acho que eles estão em patamares diferentes agora. Na minha opinião o favorito para ganhar em Nova Iorque é o Rafael Nadal. Tem tido uma época incrível e é o número um do Mundo. Ganhou no Canadá em piso rápido e está, de facto, numa forma espetacular. Depois penso que o segundo favorito é o Novak Djokovic. Isto é algo que não pudemos dizer durante dois anos por causa das lesões, mas vencer Wimbledon foi verdadeiramente notável.
Depois há Roger Federer. Ele descansou durante mais tempo do que eu esperava, durante o verão, mas vamos ver como corre em Cincinnati e depois conseguimos ter alguma noção se ele é capaz de lidar com os encontros à melhor de cinco sets em Nova Iorque. Mas com o público norte-americano do lado dele tenho de considerá-lo um dos favoritos à vitória.
Quero também mencionar o Zverev e o Del Potro, pelo ano que têm tido e pela forma que têm exibido em piso rápido. O Del Potro já ganhou o US Open anteriormente. E apesar de o Zverev nunca ter chegado à segunda semana em Nova Iorque, acho que estes dois jogadores vão fazer um bom torneio.
Qual acha ser a probabilidade de vermos alguém como o Tsitsipas, que está em grande forma atualmente, ou o Kevin Anderson, que tem vindo a surpreender todos os anos, a vencer em Nova Iorque? Podem vir a ser uma ‘surpresa’?
BB: Penso que ninguém quer jogar contra esses dois jogadores atualmente. Kevin Anderson deixou a sua marca o ano passado no US Open, mas este ano foi finalista em Wimbledon e jogou bem no Canadá. Acho que ele, de facto, está na sua melhor forma. E claro o Tsitsipas, de 19 anos, a bater jogadores do top 10 mundial como se não fosse nada. Está em grande forma e tem muita sensibilidade e exuberância. Mas nunca sabemos quem pode surpreender. Eventualmente não haverá mais o chamado ‘big four’ e alguns dos jovens vão crescer e assumir o topo.
Acha que o Alexander Zverev pode realmente impor-se no circuito depois do Federer e do Nadal? Acha que ele vai longe e ganhar muitos títulos do Grand Slam?
BB: Eu acho que será difícil para qualquer um, depois de Federer e Nadal, ser tão bem sucedido quanto estas duas lendas. Zverev é definitivamente um jogador que penso que pode dominar nos próximos anos, mas ganhar 20 ou até 17 torneios do Grand Slam acho inacreditável. Por isso, sinceramente penso que não vão conseguir fazê-lo. Mas acredito que vai chegar a altura em que o Zverev vai ganhar o primeiro título Grand Slam, assim como o Kyrgios, quando joga bem, ou até mesmo o Tsitsipas ou outros jovens russos também. Khachanov é bom, Rublev é bom. É apenas uma questão de tempo para um deles conquistar o seu primeiro título do Grand Slam.
Olhando para o setor feminino. Tivemos sete vencedoras diferentes consecutivamente de torneios do Grand Slam, incluindo quatro estreantes. Acha que podemos ter outra campeã surpresa? Ou serão as mais experientes a dominar no US Open?
BB: Há um grande elemento surpresa no setor feminino… ou por outro lado há falta de consistência das jogadoras de topo. Fiquei feliz quando a Halep ganhou Roland Garros, também fiquei feliz pela Kerber por ganhar Wimbledon. Mas é surpreendente termos bastantes surpresas no setor feminino. No entanto, torna tudo mais interessante porque nunca se sabe quem vai ganhar. Por isso, acho que o quadro feminino é mais aberto do que o masculino.
Quais são as suas expectativas em relação a Serena Williams? Ela fez uma grande prestação em Wimbledon, mas tem precisado de lutar muito em piso rápido. Terá alguma oportunidade de vencer em Nova Iorque?
BB: Penso que a Serena Williams é uma das favoritas a ganhar o US Open. É provavelmente o seu torneio do Grand Slam preferido. O público de Nova Iorque apoia-a incondicionalmente. E este é provavelmente um dos maiores públicos do mundo do ténis. E ela pareceu, de facto, uma campeã em Wimbledon antes da Kerber a travar na final. Mas acho que a Serena vai chegar longe em Nova Iorque.
É o 50.º aniversário do US Open na Era Open. Qual é a sua grande memória deste torneio?
BB: Há muitos momentos que consigo destacar. Mas os ataques terroristas de 11 de setembro aconteceram apenas dois dias depois de eu assistir à final entre Sampras e Agassi. Por isso, essa edição marcou-me. Também adoro as sessões noturnas, é espetacular e traz sempre o melhor de cada jogador. E o público adora, ter ténis até às 2 horas da madrugada, com luzes.
«GOSTO MUITO DO ESTILO DO KAREN KHACHANOV»
Considera que a estes jovens jogadores em ascensão lhes falta o foco necessário para vencerem um torneio do Grand Slam?
BB: Na verdade penso que é isso que acontece. Existem jogadores com muito talento e, por alguma razão, ainda não conseguiram dar o salto nos torneios do Grand Slam. Deverá estar relacionado com a sua mentalidade, concentração exigida que é naturalmente maior durante duas semanas e em encontros à melhor de cinco sets. Eles têm o talento, qualidade, são bons o suficiente, mas há algo que os trava nos torneios do Grand Slam. Não sei exatamente o que é, mas sei que existe algo.
Quais são as suas expectativas em relação aos jovens jogadores russos?
BB: Karen Khachanov, gosto muito do estilo dele. Ele é um dos jogadores que têm muito talento e a mentalidade para alcançar o top 10 em breve. Também gosto do Rublev. No caso da Sharapova, fez um muito bom Roland Garros, mas depois perdeu precocemente em Wimbledon, por isso não consigo perceber exatamente qual o seu plano de regresso à competição. Mas claro que ela é uma campeã e tem a experiência e a personalidade necessárias, apesar de as suas exibições terem atualmente altos e baixos.
«ACHO QUE O MEU CICLO ENQUANTO TREINADOR ESTÁ FECHADO»
8 – Voltaria a treinar alguém do circuito? Ajudar alguém a chegar longe? Ou o seu tempo enquanto treinador já chegou ao fim?
BB: Estou muito feliz com o que estou a fazer agora no mundo do ténis, a trabalhar no Eurosport e enquanto chefe do ténis masculino alemão. Por isso, continuo a ser treinador, mas de mais do que um jogador e não diariamente, mas sim semanalmente. Não descarto a hipótese de voltar a treinar um jogador do circuito, mas neste momento não.
10 – Gostaria de voltar a ser treinador do Djokovic?
BB: Não, acho que o meu ciclo enquanto treinador está fechado. Mas continuamos próximos. Somos amigos e falamos muito sobre ténis. Quando estou num torneio ele vem ter comigo e quer ouvir a minha opinião. Está em boas mãos agora. Tem 31 anos, ele sabe o que é preciso agora e tem pessoas à volta dele que também sabem, por isso está bem.
9 – Depois de ter estado ausente durante muito tempo e das lesões, considera que o Novak Djokovic pode voltar a ganhar outro torneio do Grand Slam, tal como fez em Wimbledon?
BB: Penso que um campeão não é só campeão uma vez. É campeão para sempre. Ele tem mentalidade de campeão. Obviamente que tem de jogar encontros. E fico feliz por ele estar com a sua antiga equipa, acho que lhe dão confiança. Mas o Novak é um campeão, para mim é uma questão de tempo. Se estiver tempo suficiente em court e a jogar torneios, sempre concentrado no ténis, penso que ele regressará aos bons resultados.
«VAMOS VER COMO É QUE OS JOGADORES VÃO LIDAR COM O RELÓGIO»
Haverá um relógio pela primeira vez a contabilizar os segundos entre os pontos no US Open. Acha que isso é uma desvantagem para jogadores como o Nadal, por exemplo, que gostam de ter o seu tempo?
BB: Vamos ver, mas acho que vai ser bom. Toda a gente vai conseguir perceber o que são 25 ou 30 segundos, incluindo o Rafael Nadal. Penso que é uma mais valia ter isso em campo e acho justo. Vamos ver como é que os jogadores vão lidar com isso.
O US Open é muito diferente dos outros torneios do Grand Slam, com os espectadores a fazerem barulho e os aviões sempre a passar. Como é que um jogador se adapta a estas condições?
BB: Sim, é muito difícil. Tem de se estar muito concentrado, porque facilmente um jogador se distrai com o que se passa à sua volta. É muito complicado, mas faz parte, o jogador tem de aceitar isso.
Ganhou muito aos 17 anos. No campeonato europeu na Noruega ganhou duas medalhas de ouro. Que conselho daria a um jovem dessa idade que quer manter o foco e a disciplina?
BB: Acho que a idade é apenas um número, mas a prioridade é manter os pés bem assentes na terra. É necessário pensar no que coloca um jogador no topo, porque é isso que é preciso para continuar ou alcançar o topo.
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