Djokovic e os 100 milhões: «Como falar de dinheiro quando o ordenado na Sérvia é 300€?»
Novak Djokovic confirmou já esta quinta-feira a passagem às meias-finais de Roland Garros, pela oitava vez na sua carreira (sexta consecutiva), mas é ainda o triunfo nos quartos-de-final que vai chamando a atenção, ou não tivesse permitido ao atual número um mundial atingir os 100 milhões de dólares em prémios monetários.
Convidado a falar sobre esse marco histórico pela estação de televisão do seu país B92, o sérvio de 29 anos desvalorizou o montante conquistado até então, assegurando que ganhar dinheiro não é a sua prioridade. “Não dou demasiada importância a isso e não gosto quando os prémios monetários são o centro da discussão”.
“A imprensa coloca-me numa situação desagradável quando quer que fale do montante que ganhei durante toda a minha carreira – os atletas profissionais não deviam mover-se pelo dinheiro. A sociedade insiste em colocar essa como a questão central”, acrescentou o campeão de onze títulos do Grand Slam, lamentando que o dinheiro e o poder sejam usados como barómetro do sucesso dos atletas.
“Não devia ser assim. Sou cem por centro contra isso, tenho uma visão e valores completamente diferentes. O dinheiro vem como resultado da devoção, do amor e da paixão pelo desporto”. Um assunto sensível para Djokovic, que vem de um país que não se coadune com contas avultadas.
“Como é querem que eu fale de dinheiro quando a média dos ordenados na Sérvia é de 200-300 euros? É tudo o que tenho a dizer. Não estou a tentar parecer algo que não sou, sendo demasiado modesto ou algo do género”.
“É triste que o mundo do desporto se tenha tornado num instrumento para criar rivalidades tão desagradáveis e agressivas”, lamentou o jogador dos Balcãs, não escondendo o receio de que o facto do desporto ser encarado “como uma máquina de fazer dinheiro e um negócio” tenha influência negativa nos desportistas de amanhã.
“Devem ser passadas mensagens e histórias positivas para as gerações mais novas, para não se criar pressão e expetativas para os pais e atletas, usando o jogo para conseguir dinheiro e fama. Se se jogar por amor ao desporto, com base nas emoções, então será tudo diferente e o resto virá por acréscimo”, concluiu o três vezes finalista de Roland Garros, que luta amanhã por mais uma final em Paris, diante de Dominic Thiem.