David Nalbandian:«Para mim, o ténis foi noutra vida» - Bola Amarela Brasil

David Nalbandian:«Para mim, o ténis foi noutra vida»

Por admin - novembro 22, 2015

Já passaram dois anos desde que o circuito ATP disse adeus a um dos grandes talentos deste século: David Nalbandian. O argentino pendurou definitivamente a raquete no final de 2013, altura em que uma cirurgia ao ombro acabou por ser demasiado para o argentino.

Prestes a celebrar 34 anos, há outra data que Nalbandian não esquece: 20 de Novembro. Foi nesse dia, há 10 anos atrás, que o argentino conquistou o torneio mais importante da sua carreira, a Masters Cup em Xangai. Ao jornal argentino La Nación, relembrou esta e outras experiências da sua vida tenística. Começando pela sempre difícil transição entre a carreira e a reforma como jogador:

“Não sofri por ter deixado de jogar. Sou uma pessoa de olhar para a frente. Já tinha iniciado alguns projectos antes de me retirar, então não estive nenhum período sem saber o que fazer. Isso ajudou-me a manter-me ocupado e com a cabeça activa. Há uns dias comecei a dedicar-me ao Twitter. Logo eu que não percebia nada de computadores. Tocava no computador e quase me electrocutava! E curiosamente no outro dia li que passaram oito anos dos títulos em Madrid e Paris e se não visse isto, não me lembrava. É como se tivesse sido tenista noutra vida.”

Nalbandian já virou claramente a página e nem lhe passa pela cabeça um regresso aos courts, até por nunca ter voltado a estar a 100% após as operações a que foi sujeito.

“Fui operado à anca em 2012 e nunca fiquei a 100%, mas conseguia competir. No ombro foi muito pior, isso era impeditivo. Hoje poderia servir mas amanhã teria o braço a doer muito. Se pudesse servir por baixo, poderia jogar perfeitamente todos os dias. O problema é quando o cotovelo passa à altura do ombro, tudo o que seja lançamento ou movimentos de repetição causa-me incómodo. Quanto à vida quotidiana, não tenho nenhum problema.”

O que faz agora o argentino com tanto tempo livre? O rally é uma das suas actividades de eleição.

“Faço as coisas de que gosto, coisas nas quais me fui envolvendo. O rally, por exemplo, que não me tira assim tanto tempo. É uma vez por mês, de quarta-feira a domingo, não é muito. É quase uma desculpa para sair de casa (sorri). O ténis era uma profissão, tinha pressão. Dedicava todo o dia a isso. O rally faço-o como diversão.”

Campeão do Estoril Open em 2002 e 2006, Nalbandian sente que sem o ténis vive “mais tranquilo”. “Tinha que andar sempre de um lado para o outro. Quando voltava a casa, numa semana queria fazer tudo o que não podia fazer em dois meses de andar pelo circuito. Agora tenho uma rotina em que me organizo para disfrutar e fazer programas com a família.”

Se há coisa de que não sente mesmo falta é das viagens a que era obrigado a fazer para competir nos vários torneios do circuito.

“Foi a primeira coisa de que deixei de sentir falta. As viagens eram o pior para mim. Muitas são longas, desgastantes, incómodas. Lembro-me que pouco depois de me retirar, nas primeiras férias que fiz sentia que me faltava algo, que era o saco de ténis. Pensas que te esqueces de algo. É engraçado. O ténis foi muito bom para mim mas é uma etapa concluída. Não sinto falta.”

David Nalbandian, treinador? O argentino torce o nariz.

“A verdade é que os responsáveis nunca me chamaram. E para ser treinador, tinha que estar disposto a viajar porque treinar um jogador duas semanas cá e depois não viajar com ele ao torneio, é como não terminar o trabalho, não ajudá-lo. Voltar a viajar seria quase a mesma vida que tinha como jogador. Não me convence.”

O tenista do País das Pampas mostra-se preocupado com o estado do ténis no seu país, considerando haver um retrocesso.

“O Pico (Juan Mónaco) por mais que volte bem, não irá jogar muito mais tempo. O Juan Martín (Del Potro) tem a questão da mão e não sabemos como vai ser. Poderá jogar bem mais alguns anos mas temos que ver como vai ficar. Quanto ao resto, temos jogadores que flutuam entre 30 e 100 do mundo como Leonardo Mayer, mas não vês grandes jogadores a chegarem. É uma pena termos conseguido tanto na Argentina e agora não há títulos nem jogadores para seguires na TV.”

É impossível não se falar na história de como David Nalbandian venceu o torneio mais prestigiado da sua carreira: a Tennis Masters Cup em Xangai, em 2005.

“O início da história por si só é uma loucura. Eu já estava com a mala pronta para viajar para ir pescar e se me tivesse telefonado no dia seguinte já não me apanhavam, porque estaria a pescar num lugar sem captação, sem telefone, nem nada. Ligaram-me quando o Roddick desistiu de participar na prova. Eu como suplente nunca iria, ainda menos a Xangai. E acabou por ser um torneio inesperado, incrível.”

“Percebi que estava bem quando joguei o primeiro encontro, apesar de ter perdido com Roger Federer. Esse partido era, em tese, o pior pelo adversário e pelo pouco tempo de adaptação. Quando terminei pensei «Não estive mal!”». Deu-me esperança e percebi que ia dar luta. Depois joguei grandes encontros contra Ljubicic, Coria e Davydenko. Foi melhorando jogo após jogo e na final tudo era possível. Coloco a final no top-5 dos melhores encontros da minha carreira. Talvez não pelo nível porque foi um encontro estranho mas por ser a final do Masters, pelo adversário e pela atmosfera.”

Recordamos que neste jogo decisivo, Nalbandian operou uma remontada contra o suíço, vencendo o encontro em 5 sets depois de ter perdido os primeiros dois: 6-7(4), 6-7(11), 6-2, 6-1 e 7-6(3). Federer chegava a esse encontro com 35 triunfos consecutivos no total e com uma série de 24 vitórias seguidas em finais.

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David Nalbandian não deixou de tecer algumas considerações sobre o mago suíço, revelando alguma surpresa por ainda estar a um nível tão alto aos 34 anos.

“É um animal. Nunca está mal, nunca se lesiona, não sei como é possível. Agora a sério, é assombroso que consiga manter este nível. É normal que cada vez lhe custem mais os encontros de Grand Slam e a cinco sets mas em torneios a três sets pode ganhar praticamente a qualquer um. No Masters de Cincinatti derrotou Djokovic, por exemplo. Vê-se que adora o ténis. As alterações que fez, como em relação à raquete, são um exemplo da necessidade que tem de melhorar continuamente para manter-se entre os melhores. Fisicamente, é lógico que que seja inferior aos novos jogadores. Mas consegue manter-se motivado com as alterações que vai fazendo ao seu ténis.”

Também há palavras elogiososas para o jogador que agora domina o ténis, Novak Djokovic. “É incrível. A sua temporada é comparável às melhores de Nadal e de Federer. Agora, Nole é capaz de bater qualquer recorde.”

Por fim, um tema algo polémico: o facto de cada vez haver menos diferenças entre os vários tipos de piso e de estarem mais lentos. É pelo menos essa a opinião de Nalbandian:

“Regra geral, vejo que as superfícies são agora mais lentas do que rápidas. Quando eu comecei a jogar profissionalmente, a relva era rapidíssima, como em alguns courts indoor. Hoje não encontras uma superfície assim. Jogar de fundo do court em relva praticamente não existia. Hoje há mais desgaste físico porque os pontos são mais longos.”