Pedro Araújo após primeiro título profissional: "Sinto-me realizado acima de qualquer coisa"

Pedro Araújo após primeiro título profissional: “Sinto-me realizado acima de qualquer coisa”

Por José Morgado - abril 30, 2024
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Pedro Araújo viveu no último domingo, aos 22 anos, um momento feliz, ao vencer o seu primeiro título profissional de singulares no ITF M15 de Monastir. “É muito bom ganhar”, confessou-nos horas depois da conquista o lisboeta que desde muito jovem foi sempre um grande competir e na grande maioria das vezes… um vencedor. Desde os escalões mais jovens, Araújo habitou-se a ganhar (campeão nacional de juniores em 2020) ou a andar perto disso (finalista do Nacional Absoluto em 2021, com 19 anos), pelo que os últimos anos não foram nada fáceis.

Em abril de 2022, o rapaz reservado que adora Novak Djokovic viveu o momento inesquecível de fazer a sua estreia na fase de qualificação do Millennium Estoril Open. Com 20 anos recém-cumpridos e à porta do top 500, parecia encaminhado para uma subida natural, mas as coisas daí para a frente não lhe correram como planeado. Apareceram muitos problemas físicos — uns mais graves do que outros –, alterações na estrutura e equipa técnica e… desapareceu a confiança. Aos 22 anos Araújo reencontrou a felicidade… no mais improvável dos cenários: em Monastir (logo ele que adora Lisboa e prefere as grandes cidades) e sem raquetas nem roupa, depois da mala ter ficado perdida (ao que tudo indica) na viagem de Portugal para a Tunísia. E contra as suas próprias expectativas, o seu título chegou antes do de campeão nacional do ‘seu’ Sporting, que para já vai ter de continuar a esperar…

Por tudo o que já foi referido, não surpreende que o ambicioso lisboeta se sinta mais do que qualquer coisa… “realizado” com a conquista de um primeiro título profissional de singulares. “Sinto-me realizado acima de qualquer outra coisa. Obviamente que também muito feliz, mas diria que realizado é mesmo a palavra mais acertada. Era algo que eu já procurava há muito tempo, já não ganhava um torneio de qualquer nível há muito tempo e a sensação é excelente, ainda por cima numa semana que foi super atípica e onde aconteceu um bocadinho de tudo. Não estava particularmente à espera de ganhar tendo em conta todas as coisas que foram acontecendo durante a semana. Mas a verdade é que consegui sempre arranjar uma maneira de ir avançando, de ir ganhando encontros e acabei por ser recompensado no final da semana por um título que sabe super bem”, confessou-nos a partir de Monastir, onde está a competir durante mais uma semana (joga a primeira ronda de singulares esta quarta-feira).

Quem conhece e acompanha Pedro Araújo sabe que é um rapaz confiante nas suas qualidades e capacidades, mas o jovem tenista não esconde que algumas das derrotas dos últimos meses fizeram com que se colocasse em causa. Mais a quente do que a frio. “Duvidei que este momento chegaria. É verdade que foi sempre em situações em que estava um bocadinho a quente, nomeadamente depois de derrotas mais duras onde questionei muitas coisas. Essa foi uma delas. A minha perspetiva mudava quando eu pensava mais a frio e de forma mais racional sobre as coisas, mas sem dúvida que quando estava mais triste e desapontado depois de algumas derrotas mais duras que tive no último ano, ano e meio, essa dúvida passou-me pela cabeça”, assume o tenista que no início desde ano decidiu descongelar a sua matrícula na NOVA SBE e começar a fazer algumas cadeiras da licenciatura de Gestão no famoso polo universitário de Carcavelos. Ficou até ‘famoso’ o dia em que foi direto de um exame (em que teve uma bela nota) para o encontro no ITF M25 de Loulé diante de Jaime Faria, em que se tornou num dos poucos jogadores a conseguir derrotar o seu compatriota em 2024.

E afinal de contas… onde estão as raquetas? “Não tenho uma resposta muito conclusiva para dar em relação às raquetas. Não sei onde estão e penso que neste momento ninguém saberá. Já suspeito que me tenham roubado a mala ou que a tenham mesmo perdido porque já são demasiados dias sem notícias concretas. Já tivemos algumas respostas e informações, mas muitas delas contraditórias e sem conclusão de onde está a melhor mala e raquetas.”

Araújo

O tenista português não esconde que no início lidou muito mal com a perda, mas assegura que neste momento está “em paz” com a situação. O título… ajudou. “No início a situação foi um bocadinho mais difícil de aceitar porque eu estava muito na expectativa nos primeiros dias, por informações que estavam a ser dadas. Eu tinha essa expectativa e não estava de todo à espera de jogar o torneio todo com raquetes diferentes das minhas. Quando me apercebi que isso ia ser a realidade inicialmente fiquei um pouco preocupado e assustado porque não sabia como ia lidar com isso. Como é que ia correr. Nas duas primeiras rondas tive dificuldades em lidar com a situação. Não estive ao meu melhor, longe disso, especialmente em termos de atitude. Estive demasiado negativo e preocupado com coisas que não posso controlar. Deixei que isso me afetasse. A partir da minha vitória na segunda ronda houve uma mudança significativa na forma de encarar a situação e na minha mentalidade. E penso que isso foi bastante importante. Assumi que era com as raquetas do Diogo que ia ter de jogar o resto do torneio e que ia tentar que corresse o melhor possível. Não adiantava lamentar-me. A partir dos ‘quartos’ lidei bem com a situação, estava mais habituado às raquetas. Mas a mudança começou na cabeça. Posso dizer que neste momento já estou bem adaptado e confortável com a ideia de ter de jogar com as raquetas dele. Afinal de contas não se pode dizer que a semana tenha corrido mal.”

Fundamental para o processo de recuperação da confiança de Araújo tem sido… Frederico Marques, o seu novo treinador. Em finais de dezembro, depois de um primeiro treino juntos nas Olaias, o ‘clique’ foi imediato e mútuo e os resultados estão à vista. “Em relação ao Fred, acho que o balanço é obviamente positivo, tenho gostado bastante de trabalhar com ele e acho que nos estamos a entender bastante bem. Gosto imenso da intensidade nos treinos e da exigência que tem para comigo e para com ele próprio. Gosto de saber que ele está sempre à procura de algo para melhorar no meu jogo e tenho tentado aproveitar ao máximo os treinos e a presença dele. Mas, como ele tanto gosta de me dizer, “isto acaba de começar”…

Fred Marques diz que Araújo foi uma “bonita surpresa”

Depois de mais de uma década ligado à carreira de João Sousa, o melhor jogador português de todos os tempos, Frederico Marques voltou a Portugal e está neste momento a iniciar um projeto nas Olaias que vai para além da competição. Mas o bichinho por ajudar um jovem talento a escalar dos ITF até ao topo do ténis mundial… não se perdeu. Marques conhecia pouco de Araújo quando os dois começaram a trabalhar, mas ficou surpreendido desde o primeiro dia…

“O Pedro para mim foi uma bonita surpresa. É um atleta com uma grande capacidade de trabalho, humilde, muito bom ouvinte e dentro da sua realidade bastante disciplinado.  Visto que se pode ser sempre mais disciplinado e viver mais para o ténis”, contou-nos, antes de detalhar um pouco mais sobre como têm corrido estes primeiros meses de trabalho. “Ao longo de estes 3 meses de trabalho que temos feito juntos tem vindo a trabalhar de maneira consistente e ambiciosa quebrando alguns medos e dúvidas naturais que a maioria dos jogadores destas idades tem. Falta trabalho juntos, mas com paciência humildade porque nem todo o caminho é feito de títulos e meias finais, Considero que tem capacidades para subir ainda mais e mais no ranking.”

E há muita coisa a melhorar de olhos postos em posições mais cimeiras. “O objetivo é melhorar fisicamente,tecnicamente, maiores níveis de concentração e poder competir de forma consistente internacionalmente. A nível de números deveremos aproximar dos 300 mundiais e a partir de aí, traçar o caminho para cima. Estamos no caminho certo, temos que continuar a trabalhar, cada vez com mais ambição e agarrar o futuro.”

Pedro Araújo conquista primeiro título da carreira em Monastir após semana de superação

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com