Fixing Files: São estes os rostos da corrupção em Wimbledon?
O Open da Austrália continua a decorrer mas a cada dia que passa existe uma luz que ofusca um dos quatro torneios mais importantes do ano. Essa luz sai de dentro dos Fixing Files, os documentos que revelam uma enorme investigação a milhares de encontros com resultados alegadamente manipulados – quatro deles aconteceram no torneio de Wimbledon, como divulgaram o “BuzzFeed” e a “BBC”. Nesta quinta-feira, o “Sportsmail” (secção desportiva do “Daily Mail”) veio a público divulgar os protagonistas desses mesmos encontros.
A investigação que determina a culpa ou a inocência dos jogadores envolvidos parece ter constantemente o mesmo fim: não há provas conclusivas para nada. Mas com mais ou menos provas, a verdade é que três dos quatro encontros investigados em Wimbledon têm como um dos protagonistas um atleta que já terá sido publicamente castigado por estar envolvido em esquemas ilegais dentro do ténis.
O quarto encontro e aquele que mais terá chamado a atenção da imprensa britânica aconteceu em 2006 entre o argentino Carlos Berlocq – um dos nomes na lista revelada pela imprensa sueca com os jogadores investigados – e o local Richard Bloomfield. Número 259 do mundo e presenteado com um wildcard, esta era a primeira participação em Wimbledon de Bloodfield, então com 23 anos, no evento londrino. Mas a falta de experiência não o impediu de conseguir os parciais de 6-1, 6-2 e 6-2.
Que Carlos Berlocq não é o melhor jogador em piso relvado todos sabemos, mas o que chamou realmente à atenção foi o facto de, apesar do seu claro favoritismo, terem sido apostados quase 450 mil euros no seu desaire só no site da Betfair, uma das casas referenciadas nos Fixing Files.
“Não sabia de nada disto, é indescritível”, disse Richard Bloomfield, agora treinador de ténis, ao “Sportsmail”, “na altura os meus colegas falaram-me disto e eu não acreditava neles. Não faço qualquer tipo de apostas e nem sequer sei jogar póquer ou esses jogos de azar”.
Em 2006 ainda não existia a Tennis Integrity Unit, e portanto coube ao comitê de Wimbledon investigar o caso. Contudo, dada a altura tardia com que começaram a agir, depressa chegaram a um beco sem saída, que é como dizer “não houve provas suficientes para sustentar o caso”.
Os suspeitos do costume nos restantes encontros
Filippo Volandri já arranjou problemas com a ATP no passado ao acusar positivo em testes de anti-doping, por isso não é com grande surpresa que o seu nome aparece ligado aos encontros viciados em Wimbledon. O jogador italiano, na altura parte do top-40, iniciou a sua prestação na edição de 2005 diante do australiano Wayne Arthurs, 85.º ATP, e não foi além de uma derrota por 6-3, 6-4 e 6-4.
Avança o “Sportsmail” que Volandri é um dos atletas mais mencionados nos documentos na posse do “BBC” e o “BuzzFeed”, e os indícios de manipulação deste resultado residem no facto de terem sido contabilizada uma quantidade substancial de apostas na vitória de Wayne Arthurs, também na Betfair.
O terceiro encontro que decorreu no All England Club envolveu um outro italiano, desta feita Potito Starace, também em 2005. Starace, banido pela Federação Italiana de Ténis precisamente por controlo de resultados, foi derrotado na ronda inaugural pelos parciais de 6-3, 7-6 e 6-3 frente Gilles Elseneer embora estivesse cem lugares acima do seu oponente na classificação. O “Sportsmail” diz que Elseneer foi abordado com uma proposta de cem mil euros para perder o encontro, mas terá recusado.
Por fim, Wayde Odesnik. O norte-americano certamente que não é o jogador mais querido no seu próprio país depois de ter sido também ele apanhado num teste de anti-doping. A acrescentar ao cadastro está uma alegada derrota combinada frente a Jurgen Melzer, na edição de 2009 de Wimbledon, por claros 6-1, 6-4 e 6-2.
A TIU deu conta de várias apostas com quantias de seis dígitos que foram feitas poucas horas antes do arrancar do encontro e a contar com uma derrota de Odesnik em três partidas, o que realmente aconteceu. Depois do incidente, o norte-americano terá visto a sua sanção reduzida (ou possivelmente anulada) pelo facto de se ser tornado num dos informadores secretos da Tennis Integrity Unit
Nem a TIU, nem o “BuzzFeed” nem a “BBC” confirmaram a veracidade destas informações. O “Sportsmail” falou ainda com o porta-voz do All England Club, que reforçou a política de “zero toleância em relação a práticas de corrupção”e referiu que sanções são aplicadas quando os culpados são encontrados. No fim de contas, o grande problema é mesmo esse: encontrar os culpados.