Stan Smith: o tenista ímpar que faz o mundo passear classe

Stan Smith: o tenista ímpar que faz o mundo passear classe

Por Tiago Ferraz - julho 28, 2020
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O Bola Amarela continua a relembrar aqueles que ajudaram a modalidade dos nossos sonhos a tornar-se ainda maior. Nesse sentido, fomos à procura da história do homem que (quase) todos têm a seus pés: Stan Smith. Sabia que ele foi tenista? Eis a sua história.

Stan Smith nasceu a 12 de dezembro de 1946 na Califórnia e a sua carreira confunde-se muito, nos dias de hoje, com um modelo de sapatilhas/ténis. E porquê? Certamente tem ou conhece alguém no seu grupo de amigos que usa umas ‘Stan Smith’ (eu próprio tenho um modelo calçado neste momento), mas provavelmente muitos deles não sabem quem é o homem que dá o nome a um dos modelos mais vendidos de sempre da Adidas.

Com efeito, o próprio Stan Smith já reagiu à ‘fama’ provocada por um modelo e não pela carreira que teve com a seguinte expressão:

“Muita gente pensa que eu sou um sapato e nem sequer sabem que eu sou um tenista”, disse.

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Capa do Livro de Stan Smith

Ainda assim, a história das sapatilhas/ténis Stan Smith é bastante interessante e tem um início surpreendente: sabia que o modelo, isto é, o design das sapatilhas não tinha o nome de Stan Smith quando surgiram nos anos 60? Pois é. As sapatilhas tinham o nome de um outro tenista, Robert Haillet, que acabou por revolucionar o calçado desportivo e do ténis em particular na décadas de 60 e 70 uma vez que Robert Haillet foi o primeiro tenista a experimentar o novo design dos ténis da marca com o seu nome no calçado e, depois disso, muitos mais quiseram ter as sapatilhas do gaulês.

O modelo teve tanto sucesso que acabou por se tornar numa referência e marcou uma nova era no calçado usado no mundo do ténis uma vez que, de acordo com o veiculado pela Adidas, o modelo Robert Haillet era o que os tenistas da época, entre eles estava, claro, Stan Smith, preferiam. E porquê? A resposta é simples: as sapatilhas tinham uma sola em borracha e contavam um pequeno relevo nessa parte específica (à semelhança do que acontece hoje em dia) e, além disso, tinha a parte que protege o calcanhar bem almofadada que tinha como objetivo prevenir eventuais lesões no tornozelo. A maior novidade é que este modelo substituiu as habituais três riscas diagonais da marca por pequenos ‘furos’ para que fosse possível aos jogadores ter um pouco de ventilação nos pés (que é uma zona quente). Outro facto peculiar que estes ténis/sapatilhas tinham, e que acabava por ser algo bastante positivo para os tenistas da época, é que este modelo permitia uma melhor aderência a qualquer género de piso por parte dos tenistas. A cor também não foi usada ao acaso. A predominância do branco tem a ver com as regras que existiam na constituição dos equipamentos dos tenistas amadores que não permitiam que os jogadores fossem patrocinados: daí a cor branca, neutra.

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Imagem: Adidas

E quando é que o modelo Robert Haillet assumiu o nome de Stan Smith? O francês Haillet teve uma carreira relativamente curta e nunca conseguiu ser feliz nos torneios do Grand Slam. A mudança deu-se já na década de 70, em particular em 1972, já em plena Era Open no mundo do ténis, quando o tenista norte-americano Stan Smith, que na época era um prodígio no topo da sua carreira, venceu o torneio de Wimbledon com o modelo das sapatilhas/ténis calçados e tornou-se, ele próprio, um ‘embaixador’ do modelo porque as pessoas viam que se o número um mundial usava aquele modelo é porque era realmente alguém a seguir.

Assim sendo, não foi preciso esperar muito tempo para que Stan Smith passasse a estar ‘ligado’ aos ‘Haillet’. Após a ‘profissionalização do ténis’ (deu-se em 1968), o norte-americano passou a ser o rosto de campanhas publicitárias da própria Adidas depois de assinar contrato com a marca e começou também a usar o modelo ‘Haillet’ nos Estados Unidos da América.

Nesse sentido, as sapatilhas/ténis passaram a ter o seu nome numa espécie de reinvenção de um clássico da Adidas e pouco tempo depois o ‘retrato’ da sua cara já estava estampada na ‘língua’ da sapatilha que conhecemos nos dias de hoje. Uma grande curiosidade (e talvez surpreendente) é o facto de Stan Smith aparecer nos ténis/sapatilhas sem bigode…E logo ele que sempre usou bigode, imagine-se! E por que motivo? A razão é simples, mas muito peculiar: Stan Smith fez a campanha com a marca que o patrocinava e, quando tirou a fotografia que todos nós vemos no modelo, estava sem bigode na única fase da sua vida em que isso aconteceu. Resultado: ficou para sempre sem essa característica nas sapatilhas sendo que o modelo ainda tinha o nome de Haillet que ‘coexistia’ com Stan Smith durante alguns anos. Ainda assim, o sucesso crescente de Stan Smith fez com que o nome dele passasse a estar inscrito no ‘calcanhar’ dos ténis sendo que Haillet ‘desaparecia’ do mapa para que o norte-americano passasse a ficar com o protagonismo todo.

A partir desse momento, o modelo ‘Stan Smith’ ganhou (ainda mais) força a nível mundial e, mesmo agora que já passaram uns longos anos desde que o norte-americano ‘saiu de cena’, as sapatilhas continuam a estar na moda o que causou alguma surpresa a Stan Smith:

“Rapazes, raparigas, homens, mulheres, de diferentes idades e de diferentes culturas em todo o mundo…Tem sido fantástico ver a quantidade de pessoas que usa os ténis com a minha imagem”, disse o norte-americano numa entrevista recente ao Notícias ao Minuto.

Os novos ‘Stan Smith’ estavam a ter tanta saída que deixaram de ser usados apenas por tenistas dentro dos courts e passaram a ser um assessório de moda reconhecido a nível mundial: em 1977 David Bowie posou com uns Stan Smith calçados sendo que a modelo Gisele Bundchen também posou com os ténis… Nua num retrato simplista em que as Stan Smith ganharam protagonismo.

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Source : Chaussures collector

A nível desportivo, Stan Smith foi um exímio tenista que deu nas vistas, principalmente, na variante de pares onde venceu 56 títulos entre os quais se destacam quatro títulos do US Open e um Australian Open. Na variante singular, Stan Smith venceu dois Grand Slams: em 1971 venceu o US Open e no ano seguinte, em 1972, conquistou o torneio de Wimbledon. Ao longo do seu percurso, o norte-americano conquistou mais de 100 títulos na carreira nas duas variantes e, sem surpresa, foi número um mundial de pares. Em singulares, o máximo que conseguiu foi ser número três do ranking. Para além disso, de acordo com informações disponíveis no site oficial ATP, Stan Smith conseguiu ainda vencer a Taça Davis pelos Estados Unidos por dez (!) vezes nos anos de 1968, 1969, 1970, 1971, 1972, 1973, 1975, 1977, 1979 e 1981 o que o tornou num dos melhores jogadores de sempre da competição.

Em setembro de 2011, Stan Smith tornou-se presidente do International Tennis Hall of Fame.

Stan Smith foi, indubitavelmente, um nome que fez a modalidade da bola amarela crescer e associa-se a outros grandes nomes que serão, para sempre, recordados como autênticas lendas do ténis como é o caso, por exemplo, de René Lacoste, Fred Perry e Von Cramm. Obrigado, Stan! (E sim, as sapatilhas ficam-me bem).

 

 

Jornalista de formação, apaixonado por literatura, viagens e desporto sem resistir ao jogo e universo dos courts. Iniciou a sua carreira profissional na agência Lusa com uma profícua passagem pela A BolaTV, tendo finalmente alcançado a cadeira que o realiza e entusiasma como redator no Bola Amarela desde abril de 2019. Os sonhos começam quando se agarram as oportunidades.