Novak Djokovic, a lenda que (quase) todos adoram odiar

Novak Djokovic, a lenda que (quase) todos adoram odiar

Por José Morgado - fevereiro 3, 2020
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Nasceu e cresceu em clima de guerra, veio de raízes humildes e agarrou na raqueta quando tinha apenas três anos como escape para os problemas (e para as bombas que rebentavam no exterior da sua casa). Novak Djokovic cresceu ao lado da sua grande amiga Ana Ivanovic e juntos fizeram um impressionante percurso rumo ao topo da modalidade. A carismática tenista de Belgrado até foi a primeira a chegar à liderança do ranking mundial, em 2008, mas foi Djokovic que colocou o pequeno país do leste Europeu, com apenas 7 milhões de habitantes, no topo da história da modalidade.

Mas se Ivanovic, já retirada, era adorada por todo o público por onde quer que passasse, o mesmo não se pode propriamente dizer de Novak Djokovic, cuja carreira tem sido construída ‘em cima’ de uma certa desconfiança e antipatia generalizada por parte do público, habituado até à sua ‘chegada’ a ver o circuito dominado por Roger Federer e Rafael Nadal. Este domingo, enquanto o sérvio jogava diante de Dominic Thiem — um dos meninos queridos do público — na final do Australian Open, um dos seus fãs na bancada vestia uma ‘tshirt’ que dizia ‘Sérvia contra o Mundo’. Um estado de espírito que Djokovic terá encarnado muitas vezes ao longo da sua carreira mas que é também descritivo sobre a mentalidade… de todo um país.

Novak Djokovic não tem a elegância de Roger Federer, a garra lendária de Rafael Nadal nem o carisma de qualquer um dos outros dois. Há determinado tipo de qualidades que são inatas. Djokovic é como uma máquina perfeita que foi construída e afinada para fazer o impensável: dominar o ténis mundial em plena era de Federer e Nadal, os (ainda) dois melhores tenistas de todos os tempos. Mas os fãs (e alguma imprensa) não lhe reconhecem o mesmo estatuto dos seus rivais, ainda que seja muito provável de que daqui a um ou dois anos o seu currículo já seja melhor do que qualquer rival.

Talvez seja mais fácil odiar do que amar Novak Djokovic. Afinal de contas, ele tem sido o pesadelo dos dois tenistas mais titulados da história da modalidade. Daqueles que mais inspiraram crianças ao longo das últimas duas décadas a pegarem numa raqueta. Daqueles que mais bilhetes venderam. Daqueles que mais alegrias e tristezas provocaram nos seus fãs. Daqueles que mais dinheiro ganharam e deram a ganharam a uma indústria que cresceu (muito) também à conta deles.

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Djokovic também tem algumas ‘culpas no cartório’ pelo facto de o seu currículo e qualidade não serem condizentes com a sua popularidade. Atitudes como as da final deste domingo não ajudam e, infelizmente, não são novas. Mas fazem muitas vezes parte de uma capa protetora e forma de se defender de um contexto em que está inserido. Se a carreira de Novak Djokovic não tivesse sido ‘o sérvio contra o Mundo’, provavelmente o seu currículo seria bem menos expressivo. E ele muitas vezes auto-marginaliza-se para se tornar mais forte enquanto simultaneamente, como Nick Kyrgios tantas vezes defender, tenta forçar a nota para se sentir adorado.

É difícil ter o melhor de dois Mundos. Federer e Nadal conseguem, Djokovic não. A história dirá mais tarde o que ficará do seu legado…

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com