Margaret Court: do recorde de Grand Slams ao preconceito social

Margaret Court: do recorde de Grand Slams ao preconceito social

Por Tiago Ferraz - agosto 5, 2020
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O Bola Amarela não se esquece daqueles que ajudaram o ténis a tornar-se numa modalidade reconhecida em todo o mundo e, nesse sentido, foi à procura da história de sucesso de Margaret Court que ficou marcada, mais recentemente, por episódios menos felizes, mas já lá vamos.

Nascida a 16 de julho de 1942 em Albury, na Austrália, Margaret Smith mudou o seu último nome após ter casado com Barrymore Court no ano de 1967 quando tinha 25 anos. Do casamento, surgiram quatro filhos e, após o primeiro, em 1972, Court teve um regresso triunfal aos courts: Em 1973, a australiana esteve arrasadora, venceu três Grand Slams nessa temporada: Australian Open (11.º título), Roland Garros (quinto título) e o US Open (quinto título também) num regresso que marcou o ténis mundial.

Reconhecida por grande parte da crítica como a melhor ou uma das melhores tenistas de todos os tempos e os números falam por si: a antiga tenista australiana é dona de inúmeros recordes que ajudam a perceber o porquê de se ter tornado uma lenda. Dotada de um serviço potente e de uma estratégia que assentava muito no “serviço-rede”, Court raramente ficava na linha de fundo, mas quando o fazia, as pancadas eram colocadas e potentes. A australiana tinha como maiores armas no seu jogo o serviço e o jogo de rede o que fazia com que pudesse gerir o ritmo do encontro como queria. Além disso, Court era dotada de um jogo de pés impressionante o que facilitava a antecipação às pancadas adversárias.

Na carreira de Margaret Court há, ainda assim, um ano que vai ficar marcado para sempre na história da antiga tenista: 1970. E porquê? O ano de 1970 foi o ano em que Margaret Court acentuou o domínio na Era Open (começou em 1968). Nessa temporada, Court conseguiu fazer história e venceu todos os Grand Slam: Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e o US Open.

Na sua carreira, Margaret Court conta com 24 títulos do Grand Slam na variante individual e é a recordista de títulos, mas tem a norte-americana Serena Williams bem perto com 23 e ainda está em atividade atualmente nessa que é uma das grandes questões que há no ténis feminino: Conseguirá Serena vencer mais dois Grand Slam e ultrapassar Court? Só o tempo o dirá. Vamos então perceber os anos de sucesso da antiga tenista que a levou ao recorde.

Margaret Court conquistou o Australian Open por sete (!) vezes consecutivas em 1960, 1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1966 e depois voltou a conquistar o título em “casa” nas temporadas de 1969, 1970 (no ano de ouro como falamos), 1971 e 1973 o que dá um total de 11 títulos conquistados no primeiro major da temporada. A esses 11 juntam-se ainda o torneio de Roland Garros que a australiana venceu por cinco vezes (1962, 1964, 1969, 1970  e 1973), o torneio de Wimbledon, por três vezes, em 1963, 1965 e 1970 e ainda o US Open que Court venceu em cinco ocasiões nos anos de 1962, 1965, 1969, 1970 e 1973. Na variante individual são 24 os títulos em majors.

Ao todo e, se juntarmos as variantes de pares, Margaret Court conta com um impressionante número de 64 Grand Slams. Ainda assim, nem só de sucesso foi feita a carreira da australiana que, fora dos courts, tem dado que falar e não pelos melhores motivos: Court tem ideias muito fixas (e polémicas) e, recentemente, deu uma entrevista onde diz que os transsexuais não deviam competir ao mais alto nível:

«Ninguém deveria poder mudar o género que Deus nos deu, mas se o fazem não devem deixar que faça desporto porque isso trará enormes prejuízos para uma sociedade justa», revelou numa entrevista recente à Ubi Tennis.

A australiana passou por momentos complicados devido às convicções que tem o que já levou John McEnroe e Naratilova, por exemplo, a pedir a mudança de nome da Margaret Court Arena na Austrália.

Ainda assim, não podemos negar que estamos perante uma das melhores tenistas de todos os tempos e que o percurso de Court…Nos courts é recheado de sucesso.

Jornalista de formação, apaixonado por literatura, viagens e desporto sem resistir ao jogo e universo dos courts. Iniciou a sua carreira profissional na agência Lusa com uma profícua passagem pela A BolaTV, tendo finalmente alcançado a cadeira que o realiza e entusiasma como redator no Bola Amarela desde abril de 2019. Os sonhos começam quando se agarram as oportunidades.