A louca semana de Marcelo Rios em Marselha em 1997

A louca semana de Marcelo Rios em Marselha em 1997

Por admin - fevereiro 24, 2017
UMA02 – 20000722 – UMAG, CROATIA : Chilean player Marcelo Rios eyes the ball during his semi-final match against Spanish player Carlos Moya at the Croatian Open in Umag, Saturday, 22 July, 2000. Rios won 6-2, 7-5.EPA PHOTO EPA/IVAN FABIJAN/gh (MaxPPP TagID: epaphotostwo892566.jpg) [Photo via MaxPPP]

A vontade de viajar para terras gaulesas depois de atingir prodigiosamente os quartos-de-final no Open da Austrália não era muita, mas Marcelo Rios lá foi. Corria o ano de 1997. Fez as malas e rumou a Marselha para aquela que, sem saber, se tornaria numa das semanas mais inusitadas da sua carreira. A história – que vai do drama à comédia – começa mal e termina ainda pior. Pelo meio, há uma caminhada quase imaculada até à final. Quase.

“Foi difícil fazer com que ele viesse”, relembra Jean-François Caujolle, diretor da prova ATP 250, ao site ‘We Are Tennis’. “Não é fácil para um sul-americano vir jogar à Europa nesta altura do ano. Superfícies indoor não eram as suas favoritas, e Rios tinha acabado de jogar a Taça Davis no Chile, em terra batida, com uma grande diferença horária”.

Os motivos para o então número sete mundial, de 21 anos, se arrepender de ter aceitado a proposta do antigo jogador francês chegaram pouco depois de sentir a terra firme por baixo dos seus pés. “Chegou na terça-feira, a meio da noite, e tinha perdido a bagagem com as raquetes e os equipamentos. As coisas começaram muito mal”, conta Caujolle.

Curiosamente, o ex-número um mundial, conhecido pela sua personalidade intempestiva e imprevisível, manteve a compostura perante os malfadados imprevistos. Tendo levado três raquetes consigo, na bagagem de cabine, ficava apenas a faltar a farda de trabalho. “Não foi difícil arranjar novos equipamentos, dá sempre para gerir esse tipo de situações. E ele foi compreensivo em relação a isso, embora que fosse difícil de lidar consigo noutro tipo de assuntos”.

Pouco avistado fora do court, o finalista do Open da Austrália 1998 não faltou aos seus compromissos no court. As vitórias nas rondas inaugurais sucederam-se, mas nos quartos-de-final é que foram elas. Ou melhor, eles. Primeiro Magnus Larsson fez-lhe a vida negra no court, obrigando-o a disputar três sets, e depois foi o amigo do alheio entrar em ação, nos balneários.


Sei que o ladrão está nas bancadas, estou a ver-te! Estou de olho em ti.


Rios ficou sem a carteira e sem paciência. “Ele tinha um grande temperamento, e esse episódio fez aumentar ainda mais a pressão que já existia”, salientou Caujolle. A carteira apareceu pouco depois, mas do dinheiro nem sinal, o que deixou o chileno furioso. “Lembro-me que elas [mãe e filha] encontraram a carteira num caixote de lixo à saída do complexo. Ele praticamente que as acusou de terem roubado o dinheiro. Deviam ser uns 50, 100 dólares, nem era o mais importante. O mais importante era que ele tinha recuperado os seus documentos, o seu passaporte, os cartões de crédito, etc”.

Depois de mais um encontro em três sets, Rios chegava a uma muito aguardada final com o sueco Thomas Enqvist, mas o azar voltava a bater-lhe à porta. Uma lesão na coxa obrigou-o a entregar o troféu ao seu adversário logo após o primeiro set, mas o chileno não se deu por vencido. Afinal de contas, nem todos os seus adversários estavam no court.

Na hora do discurso, de microfone em riste, Rios não fez cerimónias, relembra Caujolle. “Ele começou a falar em espanhol e disse: ‘sei que o ladrão está nas bancadas, estou a ver-te! Estou de olho em ti’”. Ninguém se acusou, mas uma coisa é certa: não precisaria, seguramente, de saber espanhol para entender a mensagem do irreverente e taciturno chileno.