Lleyton Hewitt: o 'canguru' irrequieto que virou menino prodígio

Lleyton Hewitt: o ‘canguru’ irrequieto que virou menino prodígio

Por Tiago Ferraz - agosto 7, 2020
lleyton-hewitt

Nova semana, novas histórias para contar. O Bola Amarela “viaja”, esta sexta-feira, até ao país dos cangurus para conhecer o mundo encantado de Lleyton Hewitt.

Lleyton Hewitt nasceu a 24 de fevereiro de 1981, em Adelaide, na Austrália, e, no início só ligava ao futebol até aos 13 anos. Depois disso, dedicou-se ao ténis e tornou-se profissional do mundo do ténis em 1998, com apenas 16 anos. O talento do australiano não passou despercebido e, logo no ano de estreia, venceu o seu primeiro título como profissional ao conquistar o ATP de Adelaide, na Austrália, batendo na final Jason Stoltenberg já depois de ter ultrapassado, entre outros, André Agassi nas meias-finais.

Com este título, Lleyton Hewitt tornou-se no mais jovem jogador de sempre desde Michael Chang, em 1988, a vencer um torneio ATP com o ranking mais baixo (venceu o ATP de  Adelaide quando ocupava o lugar 550 do ranking) e foi o mais jovem de sempre a fazê-lo (com 16 anos e 10 meses).

De recordar, ainda assim, que Hewitt já tinha dado nas vistas anos antes depois de ter garantido um lugar no quadro principal do Australian Open, com 15 anos e 11 meses sendo o mais jovem de sempre a tê-lo feito na Austrália.

No ano seguinte, em 1999, Lleyton Hewitt ajudou a seleção da Austrália a vencer a Taça Davis depois de bater a França sendo que, neste mesmo ano, venceu ainda os títulos Delray Beach e foi finalista no ATP de Adelaide.

No primeiro ano do novo milénio, Lleyton Hewitt começou mesmo a dar nas vistas e acabou por fazer história ao tornar-se no primeiro jovem tenista a vencer quatro títulos numa única temporada desde Pete Sampras em 1990. Neste ano, Lleyton Hewitt tornou-se também no mais jovem tenista desde Andrei Medvedev a terminar uma temporada dentro do top ten mundial. Neste mesmo ano, o australiano somou mais quatro títulos ao palmarés depois de ter conquistado os torneios de Adelaide (pela segunda vez na carreira), Sydney, Scottsdale e o ATP 500 de Queen’s.  2000 foi também o ano da estreia em torneios de categoria Masters 1000, mas Hewitt não foi feliz e acabou derrotado na final. Nesta temporada, Lleyton Hewitt conseguiu marcar presença nas suas primeiras meias-finais em torneios do Grand Slam e só parou aos pés de Pete Sampras com quem perdeu nas ‘meias’ do US Open. Este foi também o ano em que Lleyton Hewitt conquistou o seu primeiro ‘major’, ainda que na variante de pares, quando conquistou o US Open ao lado de Mirnyi: este feito fez com que o australiano entrasse para a história do ténis ao ser o mais jovem de sempre a conquistar um Grand Slam na variante de pares na era Open com 19 anos e seis meses.

Em 2001, Llyton Hewitt teve, talvez, um dos melhores anos da sua carreira ao terminar a temporada como número um mundial com apenas 20 anos e oito meses sendo que foi o primeiro australiano que conseguiu ser líder mundial. Nesta temporada, Lleyton Hewitt conquistou seis títulos entre o quais está o seu primeiro Grand Slam na variante individual: o US Open ao vencer Pete Sampras na final, Kafelnikov nas ‘meias’ e Andy Roddick nos ‘quartos’.

Além do major norte-americano, Hewitt conquistou ainda os torneios de Sydney, Queen’s (venceu Sampras nas ‘meias’ e Tim Henman na final), Hertogenbosch e Tóquio. O ano terminaria, sem surpresa, nas ATP Finals que Hewitt viria a vencer depois de levar a melhor sobre Grosjean sucedendo assim ao brasileiro Guga Kuerten que tinha conquistado o troféu no ano anterior em Lisboa, Portugal. Este foi ainda a primeira temporada que Lleyton Hewitt terminou o ano no mais alto lugar do ténis mundial (primeiro).

No ano seguinte, em 2002, o australiano teve um ano quase ‘arrasador’ e foi com alguma normalidade que o segundo título do Grand Slam, na variante singular, apareceu: nesta temporada, Lleyton Hewitt venceu os títulos de São José, conquistou o seu primeiro Masters 1000 da carreira, em Indian Wells (venceu Tim Henman na final e Pete Sampras nas ‘meias’), venceu o torneio de Queen’s, pela terceira consecutiva, e foi feliz na catedral do ténis ao conquistar o torneio de Wimbledon pela primeira e única vez na carreira depois de ultrapassar David Nalbandian na final. Neste ano, o australiano venceu a Tennis Masters Cup, já depois de ter ido até às meias-finais do US Open (perdeu para Agassi), ao derrotar Roger Federer e Juan Carlos Ferrero na meia-final e final, respetivamente. 2002 ficou ainda marcado pelas derrotas nas finais dos Masters 1ooo de Cincinatti e Paris. Ainda assim, este foi (mais) um ano bastante positivo para Hewitt o que o deixou no primeiro lugar até abril de 2003.

Neste mesmo ano, 2003, Hewitt venceu ‘apenas’ dois títulos: voltou a vencer o troféu de campeão no Masters 1000 de Indian Wells (bateu o canarinho Guga Kuerten na final) e foi feliz no ATP de Scottsdale. Ainda assim, o ano não tve o fulgor de outros tempos e o australiano perdeu mesmo a liderança do ranking mundial a 27 de abril. Depois disso, Hewitt entrou para a história e não pelos melhores motivos: o australiano tornou-se no primeiro campeão em título a ser eliminado na primeira ronda em Wimbledon (perdeu para Ivo Karlovic) desde Manolo Santana em 1967. Nesta temporada, Hewitt foi ainda finalista vencido em Los Angeles.

Em 2004, Lleyton Hewitt venceu quatro títulos num ano que ficou marcado por derrotas, particularmente, dolorosas para o australiano: Hewitt perdeu as finais do US Open (para Roger Federer) e do Masters 1000 de Cincinnati e foi também derrotado na final da ATP Masters Cup também diante de Roger Federer com quem já tinha perdido na quarta ronda do Australian Open e nos quartos de final de Wimbledon. Acabou por terminar a temporada ainda dentro do top ten (foi nono classificado).

Em 2005, o ano até começou a bom nível para o australiano com o título em Sydney e com a final do Australian Open (foi à final e perdeu com Marat Safin) e, depois disso, foi finalista em Indian Wells (voltou a cair diante de Roger Federer). Depois disso, confirmou-se a fase ‘descendente’ de Lleyton Hewitt: o australiano lesionou-se  no dedo grande do pé direito e foi submetido a uma cirurgia em março deste mesmo ano. Regressou aos courts em junho e chegou aos quartos de final em Queen’s e às ‘meias’ em Wimbledon (perdeu, novamente, com Federer). Neste ano, Hewitt foi ainda às meias-finais em Cincinnati onde foi derrotado por Andy Roddick e repetiu o resultado no US Open, mas perdeu…Para Roger Federer nas meias-finais. Hewitt chegou ainda aos quartos de final em Banguecoque, mas foi ‘forçado’ a desistir devido a uma lesão na virilha. O australiano conseguiu ainda a qualificação para a Tennis Masters Cup em Xangai, mas desistiu devido ao nascimento do seu filho.

O ano que seguiu ficou marcado pela conquista de apenas um título: Hewitt venceu o ATP 500 de Queen’s (25.º título da carreira) numa caminhada triunfal que ganhou cor com as vitórias sobre Rafael Nadal, Tim Henman e James Blake. Em Wimbledon foi até aos quartos de final, mas perdeu para Marcus Baghdatis e, no US Open, perdeu para Andy Roddick também no top oito da prova.

Em 2007, Lleyton Hewitt conseguiu estar dentro do top 25 pelo nono ano consecutivo e conseguiu também voltar a vencer, pelo menos, um título ATP pelo décimo ano consecutivo. Neste ano, Hewitt venceu o torneio de Las Vegas ao vencer Marat Safin e Melzer, nas meias-finais e final, respetivamente. Ainda assim este viria a ser o único título do ano para o australiano que, devido às lesões, começava a perder gás.

2008 foi um ano atípico para o australiano uma vez que não conquistou qualquer título pela primeira vez em 10 anos: Hewitt jogou o seu último torneio da temporada, em agosto, quando perdeu para o espanhol Rafael Nadal nos Jogos Olímpicos de Pequim (Nadal viria a vencer o Ouro). Depois disso, Hewitt esteve a contas com nova lesão, desta vez no quadril. Em termos de resultados em torneios do Grand Slam, Hewitt fez quartos de final em Adelaide (perdeu para Tsonga), quarta ronda no Australian Open (perdeu para Novak Djokovic que viria a ser campeão), perdeu na terceira ronda de Roland Garros para David Ferrer num encontro decidido em cinco sets, fez quartos de final em Queen’s e quarta ronda em Wimbledon (perdeu para Federer). Ainda assim, este era um ano que não deixava saudades a Hewitt.

Em 2009, Hewitt regressou de lesão e voltou aos títulos: o australiano foi feliz no ATP de Houston (bateu Wyne Odesnik) na final, mas ainda assim o ano não foi positivo: Hewitt acabou mesmo por sair do top 100 no dia 2 de fevereiro algo que aconteceu pela primeira vez desde janeiro de 1999. Ainda assim, Hewitt conseguiu voltar ao top 100 depois de atingir as meias-finais em Memphis sendo que em abril deste mesmo ano conseguiu vencer o seu primeiro título desde março de 2007 (Houston) naquele que foi o seu segundo título de carreira em terra batida.

Seguiram-se mais lesões nos anos seguintes, mas 2010 marcou o ano em que Lleyton Hewitt conseguiu ultrapassar (finalmente) Roger Federer na final do torneio de Halle para conquistar o seu 28.º título da carreira. Neste ano, Hewitt fez quarta ronda em Wimbledon (perdeu para Djokovic) e acabou por sofrer nova lesão, desta vez na mão direita, durante uma eliminatória da Taça Davis com a Bélgica em setembro de 2010. Acabou por não jogar mais neste ano.

Os últimos dois títulos da carreira surgiram em 2014: Lleyton Hewitt venceu os torneios de Brisbane (após vencer Roger Federer por 6-1, 4-6 e 6-3) e conquistou o ATP de Newport depois de levar a melhor sobre Ivo Karlovic.

 

Ao longo da sua carreira, Lleyton Hewitt fez ainda parte de uma organização que  tinha como finalidade ajudar os tenistas paralímpicos e foi eleito o atleta do ano em 2002 e o atleta do ano da Austrália em 2003. Hewitt era conhecido por dar tudo nos courts e pelos seus característicos «C’mon!» com que tentava incentivar-se e com o qual vibrava nos pontos empolgantes. Retirou-se dos courts em janeiro de 2016, no Australian Open, depois de ser derrotado por David Ferrer na segunda ronda.

Lleyton Hewitt foi, sem dúvida, um dos melhores do mundo do ténis e marcou uma geração como fizeram, entre outros, René Lacostevon Cramm e Fred PerryMaria SharapovaGuga KuertenDon BudgeBoris BeckerJohn McEnroeMónica SelesNoahRoland GarrosStan Smith , Steffi GrafAndy RoddickAndré AgassiNalbandian, Pete Sampras ou Bjorn Borg.

 

Jornalista de formação, apaixonado por literatura, viagens e desporto sem resistir ao jogo e universo dos courts. Iniciou a sua carreira profissional na agência Lusa com uma profícua passagem pela A BolaTV, tendo finalmente alcançado a cadeira que o realiza e entusiasma como redator no Bola Amarela desde abril de 2019. Os sonhos começam quando se agarram as oportunidades.