Katie Swan: uma das mais promissoras estrelas britânicos que descobriu o ténis no Algarve

Katie Swan: a esperança do ténis britânico que começou a sua história com um 'olheiro' no Algarve

Por admin - outubro 14, 2017

Katie Swan está por esta altura em Portugal, por Óbidos, a disputar dos últimos torneios da temporada. Na primeira prova, a britânica, número 355 do ranking WTA, ficou pelo caminho na sexta-feira em singulares e em pares, depois de pelo caminho ter, até, derrotado a representante nacional Maria João Koehler. No entanto, a relação de Katie Swan com Portugal vai muito para além disto, porque, na verdade… tudo começou aqui. Foi no Algarve, e durante umas férias de verão.
Falamos do Reino Unido, um dos países com mais preponderância no ténis mundial e com alguma das academias mais bem equipadas de talentos e até de ‘olheiros’. Apesar de tudo isso, a primeira vez que Katie Swan pisou um court de ténis foi em 2007, nos courts do Balaia Golf Village, onde estava a passar férias com os seus pais. Tudo não passava de uma forma de entretenimento.
“Tinha uns sete anos e os meus pais arranjaram-me umas lições de ténis por diversão com o meu primo, que tinha a minha idade. Assim que comecei a jogar eles conseguiram ver que eu estava mesmo a gostar, muito mais do que o meu primo”, disse-nos a jovem, atualmente com 18 anos, durante uma entrevista por telefone e diretamente de Óbidos.
Esta lição teria passado despercebida, como muitas outras no Balaia, não estivesse um tal de João Marques Ferreira a coordenar a lição e a olhar para aquilo que Katie Swan estava a fazer, pela primeira vez, com uma raquete na mão. “O João disse-me que eu tinha uma coordenação muito boa e eu continuei a ter lições durante o resto das férias. Ele disse aos meus pais que eu tinha potencial, não sei como é que ele conseguiu ver isso com uma semana de treinos. É bastante impressionante”, acrescentou Katie.

João Marques Ferreira, o ‘olheiro’ da estrela britânica

Atualmente com 47 anos, João Marques Ferreira nunca mais esqueceu a tarde em que uma pequena menina lhe apareceu à frente, sem qualquer experiência, e o deixou completamente surpreendido.
“Uma criança com sete anos, super coordenada, não é muito vulgar hoje em dia, numa altura em que passam muito tempo atrás do computador”, começou por dizer o treinador em conversa com o Bola Amarela, no intervalo da sua agenda nos courts, admitindo ter “um bom olho para me aperceber onde é que há talento”.

“Sempre que eu lhe fazia uma correção, passado uma ou duas bolas ela já estava a aplicar as coisas como eu lhe dizia. Quando estávamos no court ela não tinha pupilas nos olhos, tinha bolas de ténis”

João Marques Ferreira

Depois da primeira lição, “os pais marcaram mais uma segunda e terceira lição e eu aí tirei as dúvidas todas. Com aulas de mini-ténis ela controlava muito bem a bola”, e portanto a primeira reação de João foi falar com os pais para que fossem atrás deste jeito da menina para a modalidade. E a sua persuasão acabou por levar a melhor.

Katie Swan e João Marques Ferreira em 2007. A foto é de Nicki, a mãe de Katie


“Eles não levaram muito a sério, acho que pensaram que eu estava a tentar ‘conquistar lições’ e que era tudo marketing“, referiu João Ferreira. “Mas eles próprios depois começaram a aperceber-se do meu entusiasmo com a criança e da minha insistência de a meterem numa academia de ténis ou de qualquer desporto quando regressassem para Inglaterra. Em qualquer desporto em que ela entrasse, iria ser boa”.

A complicada emigração para os Estados Unidos

A verdade é que aquilo ficou na cabeça dos pais da pequena jovem britânica, que começou desde logo a ter aulas de ténis no regresso ao Reino Unido por sua livre vontade e num clube que ficava a duas horas da sua cidade, Bristol. Três anos depois daquela tarde no Algarve, Katie já tinha o grande foco definido em ser jogadora profissional de ténis, e a sua presença em court não passou despercebida à Lawn Tennis Association (LTA):

“Tive um convite para ir para um Centro de Treino de Alto Rendimento no Reino Unido em que a treinadora era a Judy Murray. Fiquei muito entusiasmada, só tinha uns nove ou dez anos, e foi uma experiência muito boa para mim. Quando lá cheguei ensinaram-me muitas coisas sobre o profissionalismo, estava com raparigas de outros pontos do país e elas eram as melhores. Foi talvez depois disso que me apercebi que queria mesmo jogar ténis”.

Katie Swan

A carreira de Katie Swan estava a começar a firmar-se no mundo junior mas sofreu um precalço em 2013. Devido a compromissos profissionais do pai, a família mudou-se toda para o Kansas, nos Estados Unidos, e com isso a jogadora iria perder todo o apoio e condições oferecidas pela LTA. Não esconde que “a mudança foi difícil”, já que “tinha uns 13 anos e estava a estudar, então deixei muitos dos meus amigos e o meu irmão”.
Um novo país, um novo continente a uma nova cultura, mas a mesma vontade de jogar ténis Katie procurou adaptar-se à nova rotina de forma a incluir nela a modalidade. Juntou-se à Wichita Collegiate School e começou a trabalhar com Collin Foster e Rex Coad, duas relações que ainda mantém hoje em dia e que diz terem sido fundamentais na sua evolução.

Katie Swan, com 15 anos, foi destaque no site ‘kansas.com’ como a ‘emigrante’ que estava a fazer sucesso no ténis internacional


Por imposição familiar aliada à vontade própria, os estudos sempre fizeram parte da sua vida até junho deste ano, altura em que terminou o ensino secundário (high school) depois de dois anos de aulas online. Por agora, vai fazer uma paragem para se concentrar apenas no ténis, mas diz que em breve gostaria de aprender uma língua nova: “estava até a pensar em espanhol, já tive algumas aulas na escola e seria bom continuar. Mas o meu treinador é francês e gostava de que aprendesse francês”.

O (sucesso) nos juniores e a passagem para o profissional

O ano de 2015 foi até agora o mais relevante para Katie Swan em termos de resultados especialmente no que toca aos juniores. Entre os resultados principais está:

  • A vice-liderança do ranking mundial feminino
  • Uma final do Open da Austrália em singulares
  • Uns quartos-de-final em pares no Open da Austrália, Wimbledon e US Open
  • Uma final disputada em singulares do Abierto Juvenil Mexicano, uma das principais provas do curcuito (de Grade A, a mesma categoria dos Grand Slams).

Do Reino Unido para os Estados Unidos, Katie Swan fez sempre questão de nunca se esquecer onde tudo realmente começou. Depois da sua passagem bem-sucedida pelo Grand Slam australiano, a sua mãe, Nicki, enviou uma carta sentida ao Balaia Golf Village à procura…. de João Ferreira Marques, para lhe dar a conhecer dos resultados da sua filha. Poucos meses depois, João, que recebeu a correspondência, tinha uma visita à porta:
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//twitter.com/katieswan99/status/622158836187701248
Acima de tudo, 2015 foi também o ano da transição para o mundo profissional. “O ténis profissional é muito mais complicado e ainda me estou a acostumar, por isso foi duro, mas estou a aproveitar. Gosto do desafio e sinto que estou a melhorar, por isso o objetivo é manter”, disse a jovem britânica, que já venceu um total de quatro torneios ITF em seis finais.
No ano seguinte, Katie tornava-se na mais jovem britânica de sempre a representar o país na Fed Cup, e tudo graças a uma convocatória da própria Judy Murray, com quem se tinha cruzado bem no início de tudo. Para 2017, o objetivo é terminar o ano numa posição que lhe permita entrar diretamente no qualifying do Open da Austrália, algo que espera conseguir com bons resultados nas semanas que ainda restam.

Dos courts do Algarve para o troféu no All England Club?

Katie Swan diz ser bastante sociável no circuito, com vários amigos como a compatriota Katie Boulter ou a húngara Dalma Galfi, e vê em Andy Murray a grande figura de um ídolo: “ele fez tantas coisas fantásticas pelo nosso país, ao vencer Wimbledon, os Jogos Olímpicos e a Taça Davis, e é muito humilde. Sempre que o vejo é muito meu amigo“.
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=uGwM9YLQU_g
Por agora, a jovem, que vive num ‘triângulo tenístico’ no que diz respeito à equipa técnica – para além dos técnicos nos Estados Unidos, tem o preparador físico em Inglaterra e viaja com o treinador francês Julien Picot -, dispõe ainda de algumas semanas para subir umas 80 posições no ranking e ultrapassar assim o seu registo pessoal de forma a integrar a lista de qualificação do Open da Austrália. Admite não sentir qualquer pressão e diz apenas que está “a desfrutar do desafio” e a lutar para o sonho de, um dia, “chegar a número um do mundo e vencer Wimbledon”.

“Se o João não tivesse tido todas aquelas coisas eu provavelmente nunca teria tido aulas no Reino Unido (…). Eu gostei mesmo do ténis, por isso queria jogar. Não sabia que se ia tornar em algo tão sério!”.

Katie Swan

João Marques Ferreira continua a dar aulas no Balaia Golf Village. Está por lá “há 16 ou 17 anos” depois de uma passagem por Granada, na Espanha, para dar aulas com cerca de 18 anos na academia de Bjorn Borg, o seu ídolo, perto da cidade de Granada. As reuniões com o astro sueco eram motivo para o deixar de boca aberta. A ida para Espanha deveu-se à falta de patrocínios em Portugal para seguir a carreira de jogador, apesar de ainda ter sido chamado para representar o país em campeonatos europeus das camadas jovens.

João Marques Ferreira no Balaia Golf Village


A realidade do ténis nacional de outros tempos não lhe permitiu mais, mas há algo que já ninguém lhe tira: a primeira aula de ténis de Katie Swan, uma das maiores esperanças do ténis britânico para a próxima década, foi mesmo com o João.