Há oito anos, a terra batida de Madrid virou... azul, Djokovic e Nadal ameaçaram boicotar

Há oito anos, a terra batida de Madrid virou… azul, Djokovic e Nadal ameaçaram boicotar

Por José Morgado - maio 13, 2020
Madrid
MADRID, SPAIN – MAY 10: General view of the Arantxa Sanchez Vicario court during the 4th round match between Tomas Berdych of Czech Republic and Gael Monfils of France in the Mutua Madrilena Madrid Open at the Caja Magica on May 10, 2012 in Madrid, Spain. (Photo by Mike Hewitt/Getty Images)

Ion Tiriac, milionário romeno que é o dono do torneio de Madrid, adora inovar e tem-no provado com o seu torneio: os troféus, os apanha-bolas manequins, as exposições de arte no interior do recinto e até… a terra batida azul. Em 2012, a superfície mudou de cor a meio da temporada de terra, gerando enorme desconforto entre a grande maioria dos jogadores. Rafael Nadal, eliminado nos oitavos-de-final, e Novak Djokovic, nos ‘quartos’, ameaçaram nunca mais voltar, depois de considerarem a superfície perigosa. Roger Federer e Serena Williams foram quem melhor se adaptou e arrecadaram o título.

Janko Tipsarevic, sérvio que derrotou Djokovic e só perdeu com Federer nas meias-finais, lembrou aquilo que todos pensaram quando souberam que a superfície ia mudar de cor, em declarações ao ‘The Tennis Podcast”. “Para todos, incluindo para mim, o pensamento inicial não foi muito positivo. Para aí 90 por cento dos jogadores achava estranho jogar em terra batida normal, depois passar para uma semana de competição em terra azul e jogar o resto da época em terra normal. Mas depois, quando eu ouvi mais sobre isso e que a única diferença ia apenas ser a cor, fiquei mais calmo. Era assim que estava antes de chegar lá.”

O antigo top 10 não tinha ilusões de que a terra batida de Madrid viesse a ser exatamente igual às outras. Até… porque nunca é. “A terra batida de Madrid não tem nada a ver com Roma, Monte Carlo ou Paris. Por isso a minha preocupação não tinha a ver com isso. O meu medo era a questão visual, achei que seria estranho meter uma superfície totalmente diferente a meio da época de terra.”

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O papel de Tiriac neste processo foi naturalmente decisivo. “O Ion Tiriac é um dos homens de negócios mais bem sucedidos do Mundo. Para ele, mudar a cor da terra batida é perfeitamente normal para ele. Azul é uma cor ótima para o ténis, sabemos que muitos courts de piso rápido utilizam essa cor. Os jogadores de ténis mais velhos são um pouco contra a inovação. Os mais novos não. Eu pessoalmente sou totalmente a favor da mudança. Precisamos de evoluir, mas os jogadores mais velhos são muito resistentes a essa mudança.”

Tipsarevic, sem surpresas, ficou fã da terra batida azul, mas lembra que era muito difícil defender e foi isso que irritou Djokovic e Nadal. “Eu gostei da terra batida azul imediatamente. Era muito rápida. A terra batida não é a minha superfície favorita, mas em terra azul eu poderia utilizar o meu ténis mais agressivo. Não dava para defender nesta superfície. Ganhei sets de treino ao Rafa. E isso causou problema a muitos jogadores. Era um pouco escorregadio e isso causou dificuldades a muitos jogadores. O Nadal e o Djokovic não gostaram e a ameaçaram que não jogariam no ano seguinte caso a terra se mantivesse assim. A defesa é uma das principais armas daqueles jogadores. Jogadores mais agressivos gostaram porque era difícil defender.”

O sérvio lembra que Rafa Nadal colocou muita pressão na organização por não se ter conseguido adaptar às condições de jogo. “O Nadal não se calava com a questão da superfície, dizia que era perigosa, escorregadia. E tinha razão. Mas houve quem fosse capaz de adaptar-se. Outros não conseguiram fazê-lo.”

A vitória diante de Djokovic ficou na sua cabeça… mas não só. “Fiquei mais orgulhoso de bater o Gilles Simon do que derrotar o Djokovic na ronda anterior. Nunca lhe tinha ganho um set antes dessa semana. Significou bastante para mim na altura. Vou lembrar a vitória diante do Djokovic para o resto da minha vida claro. Nós somos amigos e eu sei que ele não gostou da superfície. “

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E por que razão é que Roger Federer conseguiu jogar tão bem na terra batida azul? “Ele percebeu que tinha ali uma oportunidade. Ele é um dos jogadores mais agressivos da história, a sua variedade ofensiva é incrível. Ele utilizou tudo aquilo que tem no seu arsenal e resultou. Foi por isso que ganhou: foi agressivo e foi mudando o ritmo.”

Janko Tipsarevic gostava de voltar a ver a terra batida no circuito, até porque se chegou à conclusão que o que tornava o piso escorregadio não era a cor. “Adoraria ter voltado a jogar em terra azul, mas houve mais jogadores que não gostaram do que aqueles que gostaram. Quando o Nadal diz que não joga, eles não tiveram escolha. Mas o que eu ouvi dizer foi que o problema de a terra ser escorregadia não teve nada a ver com a cor, mas sim com a forma como o court foi feito. Havia terra batida a menos nos courts. Mas os jogadores reclamaram e não acreditam. Em qualquer desporto, se a grande maioria dos jogadores não gosta de uma determinada coisa, a organização é obrigada a alterar. Especialmente se for uma novidade.”

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt