Guga Kuerten: «Quando era miúdo sonhava jogar no Maracanã e chegar à Seleção!»
Há exatamente 20 anos, Gustavo Kuerten vivia um dos dias mais felizes da sua vida. E o Brasil ia atrás e fazia uma enorme festa. É que Guga conquistava o terceiro e último título em Roland Garros na sua carreira, num marco muito especial e que deixa saudades. O próprio brasileiro, agora com 44 anos, não esconde que Paris se tornou numa cidade muito importante e diferente na sua vida.
“Quando era miúdo sonhava jogar no Maracanã e chegar à Seleção! Não sonhava com o ténis e com a forma como o povo francês ficou tão ligado a mim. Vou todos os anos a Paris e a Roland Garros. Tento entender um pouco o porquê destes sentimentos fantásticos e a ligação. Roland Garros faz esta enorme aliança entre nós. Se as pessoas têm saudades minhas, eu tenho ainda mais de Roland Garros! É como se fosse a minha família e jogava em casa”, começou por contar numa conversa com alguns jornalistas e na qual o Bola Amarela esteve presente.
A recordar a caminhada rumo a esse título em 2001, Guga Kuerten lembrou o duelo com Michael Russell, em que esteve a perder por dois sets a zero e com um pé fora do torneio. “O grande momento do torneio foi o jogo com o Michael Russell. Estive a vê-lo há uns dias. Fiquei muito surpreendido porque na minha mente não joguei muito bem, mas quando vi outra vez, vi que ele estava espetacular, a fazer-me correr, em vez de eu controlar o jogo. Deu-me uma lição em court durante quase três sets. Ele merecia ganhar, mas não aconteceu porque era Paris e era mágico para mim. De alguma maneira, toda a atmosfera desde o dia em que entrei lá aos 15 anos e ainda estou ligado, fizeram-me acreditar nestes feitos impossíveis. O público fez-me voar e tornei-me imbatível de um jogo para o outro. Se pudesse escolher um único momento na carreira seriam aqueles segundos mágicos. Fez-me ficar muito emocionado ver esse encontro outra vez”, destacou, lembrando o dia em que desenhou o coração na terra batida que se tornou inesquecível.
Kuerten tornou-se número um do mundo e viveu tempos gloriosos. Mesmo por isso, será que fica contente por não ter tido de apanhar Rafael Nadal, Novak Djokovic e Roger Federer no auge? “As sensações são cada vez mais distantes e o pensamento também se afasta. Mas há 10 anos eu sentia as relações ainda próximas, a pensar como seria e que bom seria desafiar todos eles. A experiência de jogar com Nadal em Roland Garros é um presente formidável e um pepino gigantesco! Mas como tenista é o que nos move para encontrar força, capacidade, superação e tudo isso. Teria muitos anos para enfrentá-los se tivesse a carreira com continuidade natural e sem o problema físico. Deixaram de acontecer umas experiências fantásticas na minha vida. Se pensar de uma maneira objetiva, quanto mais jovem, mais precoce eu desafiasse, teria uma maior vantagem e ao longo do tempo virava. Hoje o ténis é muito diferente de há 20 anos. A capacidade que têm hoje de batalhar horas e horas numa perfeição extraordinária… Dá uma reverência ainda maior. Esse trio de Nadal, Federer e Djokovic é possível que nunca mais vejamos nesta dimensão tão fantástica, com um império grandioso, uma dinastia soberana. É estranho ver isso no ténis e formidável. Que bom que vim antes! E não tive de encarar esse trio!”, rematou.