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Francisco Tavares: O ex-jovem jogador rebelde vive o sonho de ser treinador
O ténis português tem produzido ao longo dos últimos anos cada vez mais treinadores com nível de conhecimento e experiência que se equiparam ao que de melhor se faz lá fora. Um desses exemplos é Francisco Maya Tavares. Atualmente a trabalhar no Duna Guincho, em Cascais, num projeto liderado por Nuno Ralheta, o treinador de 46 anos (mas com mentalidade bem mais jovem, confessa), recebeu-nos para uma manhã em que nos contou a sua história.
Antigo campeão nacional de sub-16 e membro de várias seleções juvenis, o portuense decidiu que queria ser bem mais do que um ex-tenista que nunca chegou a ser profissional e foi-se tornando treinador com ambição e aventuras ao lado de alguns dos treinadores mais credenciados do Mundo.
O jovem talentoso (e rebelde) que não chegou a profissional
Francisco sempre gostou de desporto e não demorou muito tempo até perceber que o ténis era a sua modalidade de eleição. “Comecei a jogar ténis com 9, 10 anos no Clube de Ténis do Porto. Comecei com o professor Francisco Coelho. Depois passei para a Maria José Silva e Pedro Barroco, e quando entro na competição passei logo para o Boavista com o Luís Miguel Nascimento. Foi o treinador que me marcou mais pela positiva. Marcou-me como jogador, como pessoa e atualmente é até meu padrinho de casamento. O meu objetivo último era até trabalhar com ele na Flórida e se ele estivesse cá estaríamos provavelmente a trabalhar juntos, porque existe uma indentificação muito grande.”
A subida a níveis competitivos e às seleções nacionais foi rápida, permitindo-lhe ter experiências variadas e até bater bolas com… Gabriela Sabatini. “Tive uma ascensão rápida. Fui campeão nacional de sub-16 logo no primeiro ano. Fui ao campeonato da europa. Venci o nacional de sub-18 de equipas e fui também ao campeonato de europa por equipas, numa seleção liderada pelo José Vilela. Viajei muito com o Nuno Marques, Bernardo Mota,Paulo Coelho, Paulo Machado, entre outros. A nível Sénior cheguei a jogar vários satélites e a viajar com Pedro Cordeiro e João Cunha e Silva. Jogámos Orange Bowl, Rolex, circuito sul-americano. Partilhei courts com jogadores como o Andre Agassi, Jim Courier, lembro-me também do Boris Becker no Europeu. Bati bolas com a Gabriela Sabatini. Tive várias experiências no estrangeiro que gostei bastante.”
Perdeu-se um jogador, mas ganhou-se um treinador
Como em muitas dezenas de jovens, o talentoso juvenil e júnior acabou por não conseguir fazer a transição da melhor forma, nem lidar com algumas das frustrações típicas de quem começa a perder mais do que aquilo a que estava habituado. “Fiz alguns bons resultados, mas cheguei aos 18/19 anos e talvez por não saber lidar com a derrota acabei por não continuar. Hoje em dia há mais informação, a mentalidade é mais aberta. O meu objetivo era ser profissional e imaginei-me até aos 30 e tal anos a jogar ténis. Mas hoje a capacidade que cada um tem para fazer uma gestão de carreira é muito melhor. Nessa altura decidi deixar de jogar e comecei a estudar e a trabalhar. Comecei por gestão, percebi que não era a minha paixão e formei-me na área do desporto”
Depois de vários trabalhos na parte da preparação física, Francisco Tavares abraçou o desafio de liderar a escola de ténis do Belas Clube de Campo, durante dois anos, entre 2010 e 2012.
Ao lado dos craques na Sanchéz Casal
“Tinha vontade de ter uma experiência além fronteiras como treinador para ganhar conhecimento e experiência”. E assim foi, rumo a Espanha (Barcelona) e Estados Unidos (Florida). “Tive 15 dias na Flórida e a Academia Sanchéz Casal reabriu em Naples nesse ano. Entrei em contacto com o Emílio Sanchéz e fui ter a Barcelona para integrar a Academia para eventualmente depois fazer a transição para Flórida. Fiz curso durante uma semana Foi um privilégio está com court com todos eles. Após essa semana de curso convidaram-me para ficar a trabalhar para depois poder ser integrado na Academia com o objetivo futuro de depois ir para os Estados Unidos.”
Com quem partilhou court? Ora bem… “Emílio Sanchéz, Sérgio Casal, António Hernandéz (falecido), Stefano Ortega (acompanhou a Kuznetsova), Ángel Jiménez, Paco Alvaréz. Aprendi todo o sistema de treino deles, que prepara os jogadores nas quatro áreas: técnica, tática, física e mental.”
Andy Murray, Svetlana Kuznetsova, Juan Monaco, Grigor Dimitrov, Feliciano López foram alguns dos jogadores que acompanhou de perto, tanto em Barcelona, como na Florida. “Foram experiências muito enriquecedoras”, confessa.
Depois de 16 meses em Abu Dhabi, onde lamenta que o desejo pela competição ainda não acompanhe o forte poder económico do país, regressou a Portugal não só para ser pai pela segunda vez como para aceitar o desafio do Duna Guincho.
Novo projeto e sonho com voos mais altos
Atualmente, é responsável pelos jovens a partir dos 10 anos, naquilo que chama a “Performance Team”, com treinos de três vezes por semana, pelo menos duas horas. “Tanto eu como o Nuno utilizamos o sistema espanhol aqui no Duna Guincho. Passamos pelas variantes todas. Esquemas técnico-táticos, controlo de bola, jogar pontos e preparação física. Procuro utilizar a minha experiência aqui, também o que eu passei enquanto jogador, para não cometerem alguns erros que eu possa ter cometido como jogador e jovem. Gosto muito de ténis, a área que me apaixona é a competição e o alto rendimento e é nesse sentido que trabalho.”
Francisco não esconde que gostaria de um dia treinar a tempo inteiro um jogador profissional. “Gostava de ter um desafio. Português ou estrangeiro. Era indiferente, mas se for português as vitórias e o sucesso são trazidos para o nosso país e isso é um incentivo para os outros. Importante é a atitude. Gostar, ter paixão e uma atitude correta”.
Para o treinador, a receita é clara: “Quando um jogador tem o sonho e o talento para ser profissional devemos motivá-lo a lutar por isso. É claro que vai ter de fazer restrições, mas o que tento passar aos meus atletas é que eles nunca devem desistir dos seus sonhos. Os grandes jogadores (e desportistas) são aqueles que se sacrificaram em prol do desporto, mas que chegam ao final da carreira, ainda jovens, totalmente realizados. O preço a pagar pelo esforço enquanto jovens vale totalmente a pena. Supera a frustração de não termos lutado pelo sonho.”
Uma história inspiradora.
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