Danke, Maestro Roger! Temos de aprender e viver sem ti…
Acredito que soe patético a quem não é apaixonado por ténis como eu sou desde que me conheço, mas a verdade é que as últimas duas semanas — e em particular os últimos três dias — foram muito duros para quem vive, respira (e faz disto vida, de forma profissional) a modalidade. Sim, é verdade que Roger Federer tem 41 anos e sabíamos que este dia ia chegar. E sim, também é verdade que ele está praticamente retirado desde o início de 2020. Mas não, nada disso atenuou a dor e o vazio que sentimos neste momento. Dor e vazio como se tivéssemos perdido um amigo ou mudado de casa para um sítio onde vamos deixar de ver quem gostamos por tempo indeterminado. É mais ou menos assim que me sinto e acredito que o sentimento seja semelhante ao de muitos os que leem o Bola Amarela. Mesmo aqueles que sempre torceram por Rafael Nadal, Novak Djokovic ou que simplesmente puxavam por quem defrontasse Federer. Mais do que não seja… terão saudades de torcer contra.
Tive alguns ídolos no ténis. Apaixonei-me pela modalidade ao ver a Jennifer Capriati, uma antiga menina prodígio cuja carreira tinha sido entretanto condenada à custa de múltiplos escândalos, vencer uma épica final de Roland Garros em 2001 diante de Kim Clijsters. Depois, já na adolescência, corri alguns torneios pelo Mundo para ver jogar a mais sorridente das ex-número uns WTA da história, Ana Ivanovic. Sim, os jornalistas devem ser imparciais, mas é hipócrita dizer que não temos favoritos. Antes de sermos jornalistas, especialmente numa modalidade que não tem tanta tradição em Portugal quanto isso, somos… fãs. Há, tal como em relação aos clubes de futebol, um certo pudor em afirmá-lo, porque quem está do outro lado, ainda que normalmente também nos julguem com os ‘óculos’ de quem tem um preferido, não conseguem perceber que nós podemos preferir um jogador a outro e ainda assim dar-lhes o mesmo tratamento jornalístico. Ou pelo menos tentar.
Cresci a ver Roger Federer banalizar tudo e todos. Era perfeito. Quase (exceção feita a Rafael Nadal em terra batida) não tinha oposição. E acredito que esse sentimento de inevitabilidade de cada vez que Federer jogava fez com que a grande maioria das pessoas não apreciasse devidamente os anos áureos do seu legado. Sempre me deu a impressão que Roger Federer passou a ser mais amado e apreciado por todos — incluindo pelos seus colegas — a partir do momento em que deixou de ser hegemónico. Nadal e Djokovic tiveram esse mérito. Fizeram-no melhorar, mas também mostrar alguma humanidade e vulnerabilidade que criou empatia com quem assiste. Tê-los aos dois a partilhar a despedida do suíço, lado a lado e em lágrimas, é impagável e irrepetível.