Carlos Ramos: «Acredito que tem de haver igualdade de oportunidades para homens e mulheres»
Tinha desejo, sim, mas vi cedo que a perspetiva começava a ficar longe. Faltava-me ter começado um pouco mais cedo, pois só comecei no ténis com cerca de 11 anos, e também com certeza qualidades físicas, de coordenação e um mental mais forte. Os jogadores de ténis de alto nível são todos uns superdotados para o desporto. Faltava-me um bocado de várias coisas!
2. Foi aos 16 anos que começou a dirigir encontros como meio de financiar as suas aulas de ténis, mas sentiu de imediato prazer em arbitrar encontros ou os motivos financeiros eram apenas a única razão que o mantinha na arbitragem com aquela idade?
Sim, comecei a arbitrar como forma de ganhar algum dinheiro para pagar os meus torneios de ténis, raquetes, encordoações, o clube…
Os motivos financeiros foram a primeira razão. Éramos um grupo de miúdos que treinávamos no Clube de Ténis do Jamor e começámos a ser juízes-de-linha no Campeonato Nacional de primeiras categorias que se realizava por vezes no Estádio Nacional, assim como em alguns dos primeiros torneios Challenger realizados em Portugal. O interesse pelo primeiro curso de arbitragem veio simplesmente porque com curso éramos remunerados de uma forma mais aliciante. A arbitragem é algo que quando começamos imediatamente vemos se gostamos ou não. O interesse financeiro rapidamente deixou de ser a minha razão para continuar na arbitragem.
3. Quando é que esse prazer se começou a tornar maior e o Carlos pensou que aquele era um caminho que poderia tomar para a sua carreira profissional?
Eu tirei o curso da FPT em 1987, e foi por volta de 1990 ou 1991, quando fiz o primeiro curso de árbitros da Federação Internacional de Ténis. O curso correu-me muitíssimo bem e uns meses depois fui convidado para fazer o curso de nível superior. Foi nessa altura que comecei a acreditar na possibilidade de poder ter uma carreira internacional. Tinha cerca de 20 anos, comecei a jogar tarde e a arbitrar cedo!
4. Algo que suscita algum interesse é em saber como é que um árbitro passa da cadeira de torneios de Federação para cadeiras do circuito mundial. Portugal não é um país com grande tradição tenística, apesar de organizar o Estoril Open e de ter alguns bons resultados ao longo dos tempos. Como se deu esse “salto”?
Esse salto em Portugal não foi dado por mim, mas sim pelo Jorge Dias. O Jorge para além de ter sido um dos melhores árbitros de sempre, foi o primeiro árbitro de cadeira profissional português.
Penso que com a arbitragem de ténis portuguesa aconteceu um pouco o que por vezes acontece em alguns países com os jogadores. Veja o exemplo da Sérvia que nos últimos 3 ou 4 anos tem tido vários jogadores de excelente nível, com certeza muito inspirados pelo sucesso do Novak Djokovic. O Jorge foi a pessoa que nos fez acreditar que poderíamos fazer alguma coisa a nível internacional na arbitragem, não só a mim mas com certeza que também à Mariana Alves e ao Carlos Sanches.
No início dos anos ’90 havia muitos torneios de ténis do circuito ITF e do circuito ATP Challenger em Portugal, o que proporcionou condições ideais para árbitros como nós que estávamos a dar os primeiros passos no circuito internacional. A Mariana [Alves], o Carlos [Sanches], eu e um pouco mais tarde o Rogério [Santos] fomos os que acabámos por nos destacar mais de um grupo de uns 10 árbitros que inicialmente se pode profissionalizar trabalhando praticamente só em Portugal. A grande maioria destes torneios eram organizados pelo João Lagos. Alguns também pelo falecido João Moura Diniz e outros pela Federação Portuguesa de Ténis.
5. Acha que as razões económicas estão na base da perda de interesse pelo ténis em Portugal? Apesar da ideia de que apenas as pessoas com mais possibilidades poderiam praticar este desporto estar ultrapassada, organizar um torneio de ténis tem os seus custos.
Não penso que o fato de se organizarem menos torneios demonstre necessariamente uma falta de interesse pelo ténis. Organizar um torneio de ténis é um investimento enorme e algo que só poderá ser rentável com grandes capacidades organizativas. A situação económica atual limita com certeza muito as possibilidades em termos de patrocínios. As condições meteorológicas constituem um outro fator que pode fragilizar muito um torneio jogado ao ar livre. As últimas 4 finais de singulares masculinos do US Open tiveram que ser adiadas para segunda-feira devido ao mau tempo! O quebra-cabeças organizativo e o impacto financeiro são enormes… Os torneios têm de ser muito sólidos para prosperarem.
6. Continuando o percurso pela sua carreira. O Carlos foi progredindo e passando pelos torneios mais importantes do mundo. Depois de no US Open de 2011 ter completado o “Grand Slam”, algo onde nenhum árbitro tinha conseguido chegar, no Verão deste ano dirigiu a final dos Jogos Olímpicos e completou mesmo o “Golden Slam”. Ficou contente quando viu o seu nome na nomeação do árbitro para a final?
Sim, fiquei muito contente pois essa era a única grande final do ténis que eu nunca tinha feito. Fiquei contente por ter a oportunidade de viver uma final olímpica e ainda por cima esta final foi jogada num ambiente fabuloso. Fazer este tipo de jogos não é de maneira nenhuma um objetivo pois depende da qualidade do meu trabalho, mas também depende de vários outros fatores completamente fora do meu controle. É espetacular quando os faço, mas não é um objetivo nem algo que aspire muito fazer ou caso contrário aquele ano não será um ano bom para mim.
7. Ainda em relação a esse assunto, como funciona a nomeação dos árbitros para esses encontros? É mediante a prestação durante o torneio ou há outros fatores?
Há um grupo de árbitros que têm as habilitações necessárias e que podem ser designados para este tipo de jogos. A nomeação depende logicamente da nossa prestação durante o torneio, mas depende também de vários outros fatores, como por exemplo a nacionalidade dos jogadores ainda em prova. Por uma questão principalmente de credibilidade, evita-se o mais possível que o árbitro e o jogador sejam da mesma nacionalidade, sendo isso mesmo interdito nos escalões mais altos da Taça Davis e da Fed Cup e nos Jogos Olímpicos. Outro fator que pesa muito é a relação que temos com os jogadores ainda em prova, pois por vezes é necessário “dar um tempo” depois de um jogo controverso ou em que não arbitrámos bem. Finalmente algo que é comum aos 4 Grand Slam é que eles investem muito na arbitragem do seu torneio e do seu país e na medida do possível desejam que principalmente as finais de singulares sejam dirigidas por árbitros do seu país. Procura-se encontrar o árbitro que melhor se adapta ao jogo numa decisão tomada pelo juiz-árbitro, pelos supervisores e pelo chefe de árbitros e validada pelo comité organizador.
8. O que é que ainda espera que a sua carreira lhe traga?
Existem vários aspectos da minha maneira de arbitrar que posso e gostaria de continuar a melhorar. Isso sim é um objectivo que tem sido constante ao longo dos anos.
9. Existem medidas que poderiam ser implementadas no ténis de modo a tornar a arbitragem cada vez mais justa? Por exemplo, tem-se falado acerca de um aparelho que mediria a intensidade dos gritos das jogadoras no circuito feminino, qual é a sua opinião acerca disso?
A questão dos gritos é complicada, não sei se seria algo que fosse melhorar o jogo, talvez melhorasse o conforto dos espetadores. Em relação ao adversário existem duas teorias, pois se há quem diga que os gritos não afetam minimamente o adversário, há também quem diga que não lhe permitem ouvir a bola quando sai da raquete ou que se apercebe mais tarde dos efeitos. Atualmente o circuito feminino é mais afetado pelos gritos das jogadoras do que o circuito masculino, mas não é de maneira nenhuma um problema exclusivo às jogadoras.
Há um projeto no circuito júnior para lidar com esta situação o mais cedo possível na carreira dos jogadores.
Não é que não exista uma regra que possa ser aplicada se um jogador gritar demasiado alto. A maneira como a regra é aplicada é que pode mudar, pois atualmente depende inteiramente da interpretação do árbitro. Se o árbitro julgar que o ruído criado por um jogador estorva o adversário, o árbitro deve aplicar a regra do estorvo.
Existem outras possíveis alterações às regras que estão em estudo, como por exemplo a abolição do let no serviço, algo com o qual eu seria completamente a favor, pois não vejo o porquê da diferença entre a bola que toca na rede durante uma jogada e durante um serviço. Em ambos os casos o resultado é imprevisível e pode ou não mudar significativamente o decorrer do ponto. Esta é uma regra da qual resultam bastantes problemas de arbitragem porque os jogadores aceitam muito mais facilmente as decisões do “hawk-eye” do que o sistema electrónico que utilizamos para detetar quando a bola de serviço toca na rede. A ATP vai fazer um teste no circuito Challenger durante os 3 primeiros meses de 2013 em que os jogos serão jogados sem let no serviço.
Outra regra que está em discussão é a do tempo entre os pontos e a maneira como ela é aplicada. Na minha opinião esta é atualmente a regra mais difícil de aplicar para os árbitros e a que tem criado mais polémica nos últimos tempos. Como em política, as opiniões divergem muito. Quando se consultam os dirigentes, jogadores, ex-jogadores, treinadores, árbitros, publico e imprensa há por um lado quem defenda que se deva aplicar a regra com muito bom senso e tentando interferir o mínimo possível no desenrolar do encontro e inversamente quem seja da opinião que se deveria ter um sistema idêntico ao basketball, com um ecrã no campo que indique claramente o tempo que os jogadores demoram entre os pontos.
Para mim é uma regra onde vamos ter de andar para a frente pois atualmente a forma como é aplicada não é suficientemente uniforme.
No circuito ATP a partir do inicio de 2013 haverá uma mudança na forma em que os jogadores serão penalizados pelas violações de tempo: como habitualmente a primeira infração será penalizada por uma advertência. As infrações seguintes, e aqui é que se encontra a diferença, serão penalizadas pela perda de um serviço para o servidor (na grande maioria dos casos será a perda do 1º serviço) e perda do ponto para o recebedor.
Claro que ainda não podemos saber se esta mudança vai ser produtiva, mas à primeira vista parece-me muito bem, porque penso que o maior problema que temos atualmente é que a penalidade para o servidor, 1 ponto de penalidade a partir da segunda infração, é demasiado pesada. Estou bastante interessado em ver o resultado desta alteração.
10. Falando agora da arbitragem em geral. Os árbitros, durante um encontro, acabam por estar constantemente no centro das atenções devido às decisões que tomam, e essas decisões podem estar certas ou erradas, pois no fundo um árbitro é um ser humano. Acredita que os árbitros são demasiado culpabilizados quando o resultado não sai de feição a um jogador quando o verdadeiro culpado devia ser o jogador pela sua exibição mais fraca?
Existem desportos em que a arbitragem é muito mais contestada do que no ténis. Desportos em que muitas vezes o resultado final depende de uma decisão de arbitragem. No ténis isso também acontece, mas com pouca frequência. Acontece muito que a arbitragem de um jogo de ténis seja muito contestada, mas são mais raras as situações em que a opinião seja que uma decisão de arbitragem, ou uma má arbitragem tenham alterado o resultado final.
11. Considerando a sua experiência, ainda é difícil lidar com a pressão dos grandes encontros? Esteve mais recentemente na final da Taça Davis, num ambiente que visto para os fãs é um ambiente espetacular, mas aos olhos de um árbitro é capaz de resultar numa maior pressão. Como é que ainda lidar com isso?
Esse ambiente para os árbitros também é espetacular. Dirigir encontros como a final da Taça Davis deste ano e da edição passada [Espanha vs Argentina, em Espanha] em que havia um ambiente de autêntica festa entre cada ponto, é fabuloso.
A verdade é gosto muito menos de arbitrar um jogo em que o resultado final seja 6-1 6-2 6-3 no qual passe 2 horas e meia a praticamente nada mais fazer do que anunciar o resultado. Um jogo muito disputado, com casos de arbitragem e um desfecho emocionante, é algo que me dá muitíssimo mais prazer, principalmente se o estiver a arbitrar bem. Também prefiro dirigir encontros em que o público é difícil e que me desafia a interagir com ele e a proteger os jogadores e o desenrolar do encontro, do que dirigir encontros com um público pouco vibrante.
12. Essa emoção é muito difícil de controlar? No caso de o último encontro da final da Taça Davis ir a uma quinta partida os ânimos exaltam-se nas bancadas, entre os jogadores e mesmo o árbitro mas, neste último caso, essa emoção deve ser escondida ao máximo.
Já foi muito mais difícil. No entanto continuo a ter um certo nervosismo antes de qualquer jogo que arbitro, principalmente quando se trata de jogos muito importantes. Na maior parte dos casos esse nervosismo dissipa-se quando o jogo começa ou a partir do momento em que temos que tomo uma decisão difícil.
Trata-se de nervosismo que penso ser saudável. Não é falta de confiança. É resultado de saber há muito em jogo e que o risco de cometer erros e de as coisas não correrem bem está sempre muito presente.
A maioria dos árbitros gosta deste tipo de desafios e das descargas de adrenalina das situações difíceis. Um árbitro está continuamente na corda bamba e aprendemos, não só a viver com isso, mas a gostar de estarmos nessa situação.
Entre árbitros diz-se muito “You’re as good as your last match!” – És tão bom como o teu último jogo.
Um jogador não pode ganhar sem ter um adversário. Quando o adversário joga mal ou está impossibilitado fisicamente o prazer que lhe dá essa vitória é totalmente diferente de uma vitória em que ambos competem ao seu melhor nível. Para um árbitro é exatamente a mesma coisa.
Por outro lado é extremamente importante para um árbitro saber lidar com as suas emoções e com a tensão das situações difíceis, dando uma impressão ao mesmo tempo de confiança medida e de serenidade.
13. Durante um torneio, como é que funciona o dia-a-dia de um árbitro?
Somos todos muito diferentes. Eu por exemplo preciso de fazer desporto regularmente para me sentir bem e para arbitrar bem. Corro durante cerca de uma hora dia sim dia não. Os nossos horários de trabalho variam muitíssimo e a organização do dia depende essencialmente de se arbitramos 1 ou 2 jogos e do tipo de jogos que vamos arbitrar: muito ou pouco mediático, campo grande ou campo secundário, o nosso historial com os jogadores, etc. Tentamo-nos adaptar o melhor possível a cada jogo que vamos arbitrar. Cada um de nós tem a sua própria rotina que é muito diferente consoante o jogo para o qual nos preparamos.
14. Por vezes acaba por se ficar hospedado no mesmo hotel que alguns jogadores o que pode resultar numa situação um pouco constrangedora, pois ter uma relação pessoal com jogadores fora do court não é fácil. Como é que vocês, árbitros, controlam isso? Existe essa relação fora do court com os jogadores, que não comprometa o seu trabalho?
É verdade, ficamos muitas vezes no mesmo hotel que os jogadores e isso por vezes cria situações constrangedoras, como por exemplo cruzarmo-nos com um jogador depois de um jogo difícil ou que nos tenha corrido mal.
Lembro-me de uma situação há uns anos atrás em que fiz uma correção num match-point no tie-break do último set e que o jogador que teria ganho o jogo acabou por perder. Foi uma decisão muito controversa. Meia-hora depois adivinhe com quem é que me encontrei no elevador do hotel…
O papel do árbitro nestes casos é delicado pois tentamos estar abertos para discutir as situações, mas ao mesmo tempo devemos respeitar o jogador que não o quer fazer ou que pura e simplesmente não nos quer ver na frente. Por outro lado, há um lugar e um momento para falar sobre os problemas. Na maioria dos casos não só um tempo de reflexão ajuda ambas as partes, como também o hotel não é o lugar ideal para ter este tipo de conversas.
Realmente prefiro de longe não ficar no mesmo hotel que os jogadores.
No entanto, existe uma relação que na maior parte dos casos é boa entre os árbitros e os jogadores. Depende muito da personalidade de cada um, mas não é habitual e nada mal visto que um árbitro e um jogador se cumprimentem e falem durante uns minutos. O importante para ambos é que a relação permaneça estritamente profissional.
15. Os fãs de ténis veem muitas vezes o seu trabalho como um “emprego de sonho”. Viajar pelo mundo, ter a oportunidade de ver ténis horas a fio, estar perto dos jogadores, … mas você saberá melhor que ninguém que também existem “contras” nesse trabalho, como a distância de casa. Qual é o balanço entre as vantagens e desvantagens da sua profissão?
A arbitragem de ténis é algo que só se pode fazer por gosto. Trabalhar no meu desporto favorito e ter uma profissão que adoro é algo extremamente positivo.
Trabalhar num ambiente internacional, falar outras línguas, conhecer novas pessoas e novas culturas também são aspectos que eu privilegio.
Curiosamente a parte que para mim é mais difícil nesta profissão está relacionada com algo que adoro, que é viajar pelo mundo fora. Passo pelo menos metade do ano fora de casa o que sempre foi difícil para mim. Vivo em dois mundos completamente distintos: o mundo do ténis, do espetáculo, dos torneios; e o mundo familiar. A maior parte das pessoas regressa a casa do seu trabalho no fim do dia ou pelo menos no fim de semana. As minhas viagens variam entre 4 dias e 4 semanas e incluem sempre o fim de semana. Vou estar em casa 3 ou 4 dias nas primeiras seis semanas de 2013. É extremamente difícil coordenar isto com a vida familiar. É uma situação com a qual aprendemos a lidar, mas que não deixa de ser muito difícil para a minha mulher, para os nossos dois filhos e para mim também.
16. Acha que a temporada é demasiado longa e que não dá tempo suficiente aos árbitros e aos jogadores de descansar e estar com as suas famílias?
Para os árbitros a situação é bem diferente, pois podemos mais facilmente organizar o nosso calendário de torneios de forma a de vez em quando termos tempo suficiente sem trabalhar.
Para os jogadores creio que é bastante complicado gerir o calendário.
Idealmente penso que a temporada deveria ser mais curta para os jogadores terem mais tempo para a sua vida pessoal e familiar e também para tratar as lesões que acumulam durante o ano. Mas a realidade é que é muito complicado encurtar a temporada. Há torneios que se realizam há dezenas de anos e que não podem pura e simplesmente desaparecer do calendário. Nos anos em que se realizam os Jogos Olímpicos o calendário fica ainda mais carregado e torna-se um autêntico quebra-cabeças para os jogadores e para quem o estabelece.
17. Dirige muitos encontros masculinos e femininos e lida de perto com a realidade dos dois circuitos e com o empenho colocado por todos na modalidade. Recentemente, alguns jogadores do circuito masculino disseram que era injusto que os torneios distribuam o mesmo prize money a homens e as mulheres. Compreende as visões deles ou considera que esta discussão já foi ultrapassada no passado e não faz agora qualquer sentido?
Acredito que tem de haver igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Esta questão tem-se levantado acerca do prize-money nos torneios do Grand Slam. Na minha opinião o fato de os homens jogarem singulares à melhor de cinco sets e as mulheres à melhor de três não justifica de maneira nenhuma que os homens sejam mais bem pagos do que as mulheres. Os quadros de singulares são ambos de 128, jogam-se ao mesmo tempo e no mesmo clube. Se fizesse sentido que as mulheres jogassem singulares à melhor de 5 sets, as mulheres jogariam singulares à melhor de 5 sets. Homens e mulheres são diferentes e penso que essa diferença, assim como a igualdade de oportunidades, têm que ser reconhecidas e respeitadas. Penso que não o fazer seria regredir. Infelizmente na maioria dos países e das profissões, em geral as mulheres ainda são consideravelmente menos bem remuneradas do que os homens, o que é extremamente injusto e absurdo. Estou orgulhoso que os torneios do Grand Slam sejam um excelente exemplo também neste sentido.
18. Hoje em dia há quem diga que estamos a viver a chamada “Era de Ouro” no ténis, mais no circuito masculino do que no circuito feminino. Prefere o ténis praticado atualmente ou o ténis que era jogado há 15 anos atrás?
Acho que o nível do ténis que temos atualmente no topo do circuito masculino é o melhor que já conheci. A qualidade dos melhores jogadores e a qualidade dos encontros quando eles jogam uns contra os outros é incrível. O ténis masculino está a viver uma época fantástica.
19. Atualmente está de férias, também costuma ver ténis?
Às vezes, mas não muito. Sigo um bocado o Masters, porque é um torneio que eu não faço, para ver algum jogo interessante e as arbitragens dos meus colegas.
Há uns dias fui levar o meu filho ao Clube de Ténis e o treinador veio logo falar comigo para saber a minha opinião sobre uma decisão que um árbitro tinha tomado. Não tinha visto o jogo em questão, mas quando cheguei a casa encontrei facilmente o vídeo na internet.
Os vídeos de situações de arbitragem são uma ferramenta muito útil aos árbitros. Passamos horas a falar sobre situações difíceis e sobre a forma como os árbitros lidaram com elas.
20. Tem outro desporto de que goste para além do ténis? Disse numa entrevista que gostaria de ter sido guarda-redes.
Sim, quando era miúdo. Penso que comecei tarde no ténis precisamente por causa do futebol. Queria ser guarda-redes, mas era muito pequeno. Coincidiu com a altura em que o futebol se começou a tornar num desporto muito mais físico e em que passou a ser fundamental para um guarda-redes ser alto e forte. O meu ídolo era o Bento, não só porque era um grande guarda-redes, mas também porque também não era muito alto.
Mas há outros desportos de que gosto. Para além de correr muito, gosto de fazer patins-em-linha e de esquiar. É um desporto fabuloso que aprendi quando vim morar para França, pois nunca tinha esquiado quando vivia em Portugal.
21. Imagina onde estaria hoje em dia se não tivesse seguido a carreira de árbitro profissional?
Se hoje tivesse 16 ou 17 anos e que decidir o que é que iria estudar teria optado por arquitetura. Penso que teria gostado muito de ter sido arquiteto de interiores.
Quando era miúdo só pensava em desporto, mas hoje em dia tenho vários outros interesses que também incluem a psicologia.
• Resposta rápida
O melhor encontro em que já esteve envolvido? A final do US Open de 2011 [Novak Djokovic vs Rafael Nadal]
A situação mais delicada em que já se encontrou? Não a mais delicada, mas certamente a mais inesperada foi no Central de Wimbledon, num jogo entre o Mark Philippoussis e o Marat Safin em que, sem razão aparente, entre dois pontos a rede pura e simplesmente caiu. No final do encontro as pessoas diziam que no Central de Wimbledon até a rede cai com elegância!
Para além da Taça Davis, qual foi encontro em que teve mais problemas com o público? Talvez um encontro no US Open em que tive de sair rodeado por vários seguranças. Um dos jogadores tinha uma claque muito grande de imigrantes do seu país. Foi um jogo muito difícil. Esse jogador enervou-se muito e destruiu 3 raquetes, a última das quais quando servia durante primeiro jogo do quinto set e que resultou num jogo de penalidade. A partir daí as coisas complicaram-se muito mesmo!
A Mariana Alves veio ver, penso que ela também não se esqueceu.
É mais difícil dirigir um encontro do circuito masculino ou feminino? Penso que há mais jogos masculinos difíceis, mas quando arbitro um jogo feminino que se complica, o nível de dificuldade é exatamente o mesmo.
Torneio Favorito? Wimbledon
Cidade Favorita? Melbourne. Poderia muito facilmente viver em Melbourne. Passo lá cerca de três semanas por ano e regresso sempre com muita alegria.
ENGLISH VERSION
1. You played tennis before starting your career as an umpire. Did you have any perspective to become a professional tennis player?
Yes, I had that desire, but I soon realized that I was not good enough. I started a little bit too late, when I was about 11 years old, and I didn’t have the physical and coordination skills required and the mental strenght needed. The best tennis players are all like sport prodigies. Well, I was lacking a bit of everything!
2. You started umpiring when you were 16 years old as a way to pay your tennis classes. Did you realize immediately that you wanted to be an umpire or the financial reasons were the main reason that led you to start umpiring with that age?
Yes, being a tennis umpire was the way I found to pay my tournaments, rackets, strings …
The financial reasons were the first ones. We were a group of kids who practiced at the Jamor Tennis Club and we started being line judges during the National Championships and in the first Challenger tournaments we held in Portugal. The interest for the first referee course came because we would be paid in a more attractive way. The arbitrage is something that when you first start you realize right away whether you like it or not and I really enjoyed it. And then financial reasons started being less and less important to keep on being an umpire.
3. When did you realize that what you were doing could turn into a professional career?
Well, I completed the FPT (Portuguese Tennis Federation) classes in 1987 and the International Tennis Federation course in 1990 or 1991. That went really well and, a couple of months later, I was invited to take a superior level course. During that time, I started to believe in the possibility of having an international career. I was about 20 years old… I started playing tennis late but I became an umpire early.
4. People want to know how a tennis umpire goes from national tournaments to professional tournaments. Despite having Estoril Open and some good players, Portugal is not a country with a big tradition in tennis, so how did that happen?
In Portugal that step was taken not by me but by Jorge Dias. Besides having been one of the greatest umpires ever, Jorge was the first portuguese professional umpire.
I think that what happened to the portuguese refereeing it’s what happens in some countries with players. Look at the example of Serbia, that in the last 3 or 4 years has had several top players, surely inspired by Novak Djokovic’s success. Jorge was the person that made us believe that we could do something internationally in refereeing. Not only me but also Mariana Alves and Carlos Sanches.
In the beggining of the 90’s there were a lot of ITF and ATP Challenger tournaments in Portugal, which offered ideal conditions to umpires like us, who were taking the first steps in the international circuit. Mariana [Alves], Carlos [Sanches], me and, a little later, Rogério [Santos] were the ones that wound up standing out the most from a group of 10 umpires that inicially could professionalize itself by working only in Portugal. The larger part of this tournaments were organized by João Lagos. Some by the deceased Moura Dinis and others by the Portuguese Tennis Federation.
5. Do you think that the economical reasons explain the lack of interest for tennis in Portugal?
That concept that only rich people could play tennis has been discarded, but hosting a tennis tournament has its costs.
I don’t think that the fact that less tournaments are organized shows lack of interest for tennis. Organizing a tennis tournament is an huge investment and something that can only be rentable with great organizative skills. The current economic situation surely restrains a lot the possibilites in terms of sponsorships. Other factor is the weather conditions that can weaken an outdoor tournament. The last 4 single male tennis finals of the US Open had to be postponed due to bad weather! The organizative puzzle and the financial impact are huge… Tournaments must be very solid to prosper.
6. You have umpired the most important tournaments in the world and in 2011 you became the first referee to complete the “Grand Slam”. You completed the “Golden Slam” – if we can call it that way – with the Olympic final. Did you feel glad to see your name on the list?
Yes, I was delighted because that was the only big final I had never been an umpire at. I was happy to have the chance to live an Olympic final and it was played in an amazing atmosphere. To do this kind of matches is no way an objective because it depends on the quality of my work but also of many others factors out of my control. It’s spectacular when I do them but they’re not an objective nor something that I aspire a lot to do in a way that if I don’t do them that year won’t be a good year for me.
7. How does the nomination of the umpires for those big matches work? Is it decided by the performances of the umpires during that week or are there other factors?
There is a group of tennis umpires who have enough qualifications to be at this kind of matches. The nomination depends logically on the performances during that week but also on other factors, for example, that nationality of the players still in play. For a matter mainly about credibility, it’s avoided at almost all cost that referee and player have the same nationality, something that is forbidden in higher echelons of Davis Cup, Fed Cup and Olympic Games. Other factor that weighs a lot is the relation that we have with the players still in play, because sometimes is necessary to take some time after a controverse match or after a match we didn’t officiate well. Finally, something that’s common to the 4 Grand Slam tournaments is the fact that they invest a lot in refereeing of their tournament and country and, if possible, wish that singles finals are done by umpires of their own country. They try to find the umpire that is the best dealing with decisions taken by the luine judges, the supervisors, by the chief of umpires e validated by the organizing comitee.
8. What expectations do you have for the rest of your career?
There are some aspects of my way of umpiring that I can improve. That is a goal that has been steady throughout the years.
9. Are there any changes that could be made on the tennis system in order to create a more equitable refereeing? An apparel that measures the intensity of the grunting has been mentioned. What is your opinion about it?
That’s a tricky question. I’m not sure whether it would improve the quality of the game, perhaps it would provide a better comfort to the people. Regarding the opponents, there are two theories: it doesn’t affect the opponent at all or the grunt doesn’t allow the player to hear the sound that the ball creates. Nowadays, the women’s circuit is more affected by the players’ screams than in the men’s circuit but it is in any way a problem only exlcusive of the female players.
There is a project on the junior’s tour to deal with this situation as earliest as possible in the players’ careers.
It’s not that it doesn’t exist a rule that can by applied if a player screams too loud. The way the rule is applied is the thing that can be changed because, currently, it depends completely of the umpire’s interpretation. If the chair umpire judges that the noise created by a player hinders the opponent, the umpire should apply the hindrance rule.
There are other rules that are still being studied, like the elimination of the let on the serve, something I agree with because during the match the ball can also touch the net and fall to the other side. In both cases, the result is unpredictable and can or not change significantly the continuation of the point. There are many problems with this rule because players accept way better the Hawk-Eye system than the electronic system we use to detect when the service ball touches the net. ATP plans to make a test on the first 3 months of 2013 at the Challenger tour with no let on serve.
Other rule that has been discussed is the time taken by the players between the points and the way it is applied by the umpires. In my opinion, this is nowadays the rule that is harder to apply by referees and the one that has created more controversy lately. Like in politics, opinions drift a lot. When managers, players, ex-players, coaches, umpires, public and press are consulted there is, on one hand, a side that defends that the rule should be applied with good sense and trying to interfer the less possible during the match. On the other hand, there are some people of the opinion that there should be an identical system to the basketball one, with a screen of cout that shows clearly how much time players take between points. To me this it’s a rule which we will need to improve because currently the way it’s applied is not even enough.
The ATP plans, in the beggining of 2013, to promote a change in the way players are penalized by time violations: as usual, the first infraction is penalized by a warning. The next infractions, and here is the difference, will be penalized by the loss of a serve by the server (in the majority of times it will be the loss of the first serve) and loss of the point by the receiver.
Of course we can’t know yet if this change will be fruitful but at first sight it looks very well to me, because I think that the main problem we have today is that the punishment for the server – 1 penalty point after the second infraction – is too heavy. I’m very interested to see the result of this change.
10. During a match, the referees need to make decisions, which could be right, or could be wrong, because after all you are human beings. Do you think umpires are excessively blamed for the final score?
There are sports where the referees are a lot more contested than in tennis. There are sports in which the main result depends on a refereeing decision many times. In tennis, that happens but with less frequency.
11. Considering your experience, is it still difficult to you to deal with the pressure of some big matches? You were recently in the Davis Cup final, with a crazy atmosphere… how do you deal with that?
Those atmospheres are also amazing for the umpire.. To be an umpire at matches as Davis Cup final this year and last year’s edition [Spain vs Argentina in Spain], where there was an atmosphere of authentic party between each point, is fabulous.
The truth is that I like a lot less to be an umpire at a match in which the final score is 6-1 6-2 6-3, where I spend two hours and a half without doing almost anything besides announcing the score. A very close match, with referee cases and a thrilling finish, is something that gives me a lot more pleasure, specially if I’m being a good umpire. I also preferer to do matches in which the audience is harder and dares me to interact with them and protect the players and the match, than doing matches with a silent audience.
12. Is it hard to keep your feelings for yourself during an electrifying match?
It was a lot a harder in the past.However I’m still nervous before umiring any match, especially when it comes to very important matches. In most cases this nervousness goes away when the match starts or from the time when I have to take a difficult decision.
This is what I think is healthy nervousness. It’s no lack of confidence. It is the result of knowing the stakes are high and the risk of making mistakes and that things do not go well is always present.
Most referees like this kind of challenges and the discharge of adrenaline from difficult situations. An umpire is continually on the ropes and we learn not only to live with it, but to like this situation.
A player cannot win without an opponent. When your opponent plays poorly or is physically unable, the pleasure that a victory like that gives you is totally different from a victory in which both compete at their best. For an umpire is exactly the same thing.
On the other hand it is extremely important for an umpire to know how to deal with their emotions and stress of difficult situations, giving an impression of, at the the same time, confidence, measure and serenity.
13. How is a day of a tennis umpire during a tournament?
We are all very different. For example, I need to do sports regularly to feel good and to be a good umpire. I run for about an hour every other day. Our work schedules vary greatly and the schedule of the day depends primarily on whether we do 1 or 2 games and on the type of matches that we are going to do: a lot or little media coverage, big court or secondary court, our track record with players, etc.. -We try our best to adapt to each game that we do. Each of us has his own routine which is very different depending on the game for which we prepare.
14. Sometimes, the umpires are accommodated in the same hotels of the players, which may be a bit awkward. How do the umpires deal with that?
It’s true, we are often in the same hotel as the players and this sometimes creates awkward situations, such as crossing paths with a player after a tough game or one in which we have gone wrong.
I remember a situation a few years ago where I made a correction on a match point in the tie-break of the final set and the player who would have won the match eventually lost. It was a very controversial decision. Half an hour later guess who I met in the elevator of the hotel …
The role of the umpire in these cases is delicate because we try to be open and discuss the situation, but at the same time we must respect the player who does not want to do it or who simply does not want to see us in front of him. On the other hand, there is a place and a moment to talk about the problems. In most cases not only a time of reflection helps both parties, as well as the hotel is not the place to have this kind of conversation.
Actually I prefer a lot not to stay in the same hotel as the players.
However, there is a relationship which in most cases is good between the players and the umpires. A lot depends on the personality of each, but it is unusual and not bad seen if an umpire and a player say hello and talk for a few minutes. The important thing for both is that the relationship remains strictly professional.
15. Tennis fans use to look at your job as a dream job, travelling around the world, watching tennis for hours and hours and shaking hands with the players… but you know better than everyone that it’s not exactly like the way they think. How is it?
Tennis umpiring is something that can only be done if we like it. Working on my favorite sport and have a job that I love is something extremely positive.
Working in an international environment, to speak other languages, to meet new people and new cultures are also aspects that I privilege.
Curiously, the part that is hardest for me in this profession is related to something I love, which is to travel the world. I spend at least half the year away from home which has always been difficult for me. I live in two completely different worlds: the world of tennis, the spectacle, the tournament, and the family world. Most people return home from work in the evening or at least over the weekend. My journeys vary between 4 days and 4 weeks and always include the weekend. I’ll be home 3 or 4 days in the first six weeks of 2013. It is extremely difficult to coordinate this with family life. It’s a situation with which we learn to deal with, but it is still very difficult for my wife, for our two children and for me too.
16. Do you consider the season too long?
For umpires, the situation is quite different, because we can more easily organize our tournament schedule so occasionally we have enough time without working.
For players I believe it is quite complicated to manage the schedule.
Ideally, I think the season should be shorter for the players to have more time for his personal life and family and also to treat injuries that accumulate during the year. But the reality is that it is very complicated to shorten the season. There are tournaments that are held for decades and can not simply disappear from the calendar. In years when the Olympics are held schedule is even more loaded and becomes a real headache for the players and for who sets it.
17. You have a close contact with both women’s and men’s tour. Recently, some players from the men’s tour said that it’s unfair that the tournaments give the same prize money to men and women. What’s your point of view on that matter?
I believe that men and women deserve the same oportunities in tennis. This question has been raised about the prize money in the Grand Slam tournaments. In my opinion the fact that men play best of five sets and women best of three does not justify in any way that men should be paid better than women. The draws are both 128, playing at the same time and in the same club. If it made sense that women would play best of 5 sets, women would play best of 5 sets. Men and women are different and I think this difference, as well as equal opportunities, must be recognized and respected. Don’t doing that would be regressing. Unfortunately in most countries and professions, women are still paid less than men, which is extremely unfair and absurd. I am proud that the Grand Slam tournaments are also an excellent example in this regard.
18. Some people say we’re living a “Golden Era” in tennis, especially on Men’s tour. Do you agree with that?
I think the tennis that we see nowadays on the Men’s Tour is the best I’ve ever seen. The quality shown by the best tennis players and the quality of the matches when they face each other is amazing. Male tennis is living an amazing time.
19. You’re currently on vacations, do you watch tennis?
Sometimes, but not much. I follow the ATP Finals a little bit, because I’m not an umpire on that tournament, to watch any interesting match, the umpires performances and their decisions.
A few days ago I was taking my son to the tennis club and the coach came just talk to me to know my opinion on a decision that an umpire had taken. I had not seen the game in question, but when I got home I found the video on the Internet easily.
Referee situations videos are a very useful tool to umpires. We spent hours talking about difficult situations and on how they were dealt with by the umpires..
20. Do you have other favorite sports? I remember you said you’d like to be a goalkeeper.
Yes, when I was a kid. I believe I started late on tennis precisely because football. I wanted to be a goalkeeper, but I was too small! It was during a period where football became a more physical sport and the goalkeepers became taller and taller. My idol was Bento not only because it was a great goalkeeper, but also because it was not very high.
But there are other sports that I like. Besides running, I like going inline skating and skiing. It’s a sport that I started doing when I moved to France, I had never skied in Portugal.