OPINIÃO. Djokovic e os três meses em que quase tudo correu mal

OPINIÃO. Djokovic e os três meses em que quase tudo correu mal

Por José Morgado - junho 24, 2020
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Mar 22, 2019; Miami Gardens, FL, USA; Novak Djokovic of Serbia watches a challenge replay against Bernard Tomic of Australia (not pictured) in the second round of the Miami Open at Miami Open Tennis Complex. Mandatory Credit: Geoff Burke-USA TODAY Sports – 12401232

Quando celebrou a passagem de ano a 1 de janeiro, Novak Djokovic terá sonhado com um 2020 repleto de sucessos dentro e fora do court. E era exatamente assim que estava a ser o seu ano até inícios de março. Ganhou a ATP Cup, ganhou o Australian Open, ganhou o ATP 500 do Dubai, recuperou a liderança do ranking mundial, não perdeu um único encontro (20-0) e parecia mais do que embalado para atacar já esta época o recorde de semanas no topo do ranking mundial de Roger Federer. Tudo estava perfeito. Tudo corrida sobre rodas. Mas a pandemia apareceu e infelizmente quase já ninguém se lembra disso.

O coronavírus foi um teste para cada um de nós. Enquanto cidadãos, pais, filhos, irmãos, patrões, empregados, alunos, desportistas, fãs. E este período diferente tem sido também um tremendo desafio para os grandes líderes mundiais nos mais diversos quadrantes. Novak Djokovic, presidente do Conselho de Jogadores do ATP, tentou assumir essa liderança em vários campos: liderou as conversações com o ATP Tour e Grand Slams no sentido de reivindicar apoios para os tenistas em maior dificuldade, propôs um plano de apoio à parte por parte dos tenistas do top 100 e, ainda que não tenha sido totalmente apoiado — Dominic Thiem que o diga… — acabou por estar à altura dos acontecimentos durante essa etapa deste período.

Os problemas chegaram depois: as polémicas declarações de resistência às vacinas obrigatórias e os múltiplos diretos de Instagram com charlatões da medicina natural onde se discutiram uma série de coisas que a ciência nunca provou empurraram Djokovic de forma absolutamente desnecessária para as manchetes um pouco por todo o Mundo. O sérvio é um tipo interessante e com uma indubitável vontade de tornar o Mundo um local melhor, mas durante os últimos meses foi tropeçando várias vezes nos próprios pés. E não havia necessidade.

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Mas o pior veio depois. Novak Djokovic, o presidente do Conselho de Jogadores, revelou-se pouco favorável a jogar o US Open em Nova Iorque em agosto não apenas pelo facto de achar inviável a limitação do número de acompanhantes, mas também porque não achava seguro. O mesmo Novak Djokovic, dias depois, organizou um circuito de torneios de exibição com milhares de espectadores nas bancadas, sem distanciamento, sem máscaras e sem qualquer tipo de cuidados adicionais. Houve banhos de multidão em praças, ‘Kid’s Day’, jogo de futebol, jogo de basquetebol e até uma inacreditável saída à noite numa discoteca até às tantas.

As intenções de Djokovic até poderiam ser as melhores, mas quem assistiu ao Adria Tour pela televisão terá achado que a Sérvia e a Croácia faziam parte de uma qualquer outro Mundo. Mas não faziam. E o sérvio percebeu-o da pior forma possível.

Já muitas vezes aqui discutimos a razão pela qual Novak Djokovic não alcança os níveis de popularidade globais de Roger Federer ou Rafael Nadal. E sim, basta olhar para a nossa caixa de comentários nas diversas redes sociais (e acreditem que tentamos ocultar o máximo de mensagens ofensivas, mas não é fácil). É que ao longo destes meses e muitas vezes na sua carreira, Djokovic não conseguiu estar à altura da sua dimensão tenística e das suas intenções legítimas de ser uma pessoa melhor. E a forma como comunica e se expressa também não tem sido acertada. Basta olhar para todos os comunicados que fez na reação aos temas quentes da quarentena e do ‘pós-pandemia’: as vacinas, os diretos de Instagram, a situação do US Open e o Adria Tour. Nenhum dos esclarecimentos foi suficientemente incisivo. E quando falamos de atletas deste nível, não basta ser, também é preciso parecer. E Djokovic pode e deve ser um exemplo para milhões que o adoram e seguem. Em muitas das referidas situações… não foi.

PONTOS IMPORTANTES…

— Convém não entrar em pânico: ao longo das últimas semanas, o ténis tem ‘voltado’ com uma série de torneios de exibição que têm corrido bem. Com pouco ou nenhum público nas bancadas, as medidas de segurança necessárias e muito bom nível de jogo tendo em conta as circunstâncias;

— Em Portugal, o regresso da modalidade também está a correr bem. No CETO, o Oeiras Open mais forte de sempre foi um sucesso, com triunfo para o jovem Duarte Vale. Houve público — com distância — e muito bom ténis. Esta semana os melhores portugueses rumam a Vale do Lobo.

— É muito cedo para afirmar que o regresso dos circuitos ATP, WTA (e até a realização do US Open) pode ser comprometido por este verdadeiro caos provocado pelo Adria Tour. Faltam seis semanas para o regresso WTA, sete para o ATP e há margem para aprender com estes erros e fazer melhor. E o Adria Tour sirva de exemplo daquilo que não deve acontecer!

 

 

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com