Obradovic: «Djokovic antes gritava, agora não expressa nenhuma emoção»

A poucos dias da eliminatória entre a Sérvia e a Espanha, a contar para os quartos-de-final do Grupo Mundial da Taça Davis, Bogdan Obradovic, capitão da seleção sérvia aquando do título em 2010, vem agora analisar o momento do seu ex-pupilo Novak Djokovic, numa entrevista ao jornal espanhol AS.

“No último ano esteve várias semanas sem jogar. Não é positivo. Chegou a um momento em que cortou nos treinos, começou com dietas divertidas. Mais meditação que bater bolas”, observa Obradovic que, confrontado com o papel de Pepe Imaz, treinador mental de Djokovic desde o ano passado, adianta que a parte psicológica é essencial, mas há outras coisas. “Soube que ele disse que ganhava mais dinheiro como treinador mental. Preparar o lado emocional é bom, mas há que ir bater bolas para o court, praticar”, refere.

“Se o Phelps come em casa da avó, vai disfrutar e a seguir bate o recorde do mundo”

Insistindo neste tema Obradovic acrescenta que baixar a carga de treino não fez nada bem ao seu ex-pupilo. “Não tenho nada contra o seu trabalho, mas baixar a carga ou mudar de dieta não é bom para o Novak. Fui dos primeiros a ter problemas com ele por causa disso”. O ex-capitão da seleção da sérvia complementa com um exemplo curioso. “Se o Phelps come em casa da avó, vai disfrutar e a seguir bate o recorde do mundo. Novak é um grande miúdo, mas está a deixar-se levar por todas estas teorias”.

O sérvio considera o ténis um desporto de rotinas, exemplificando que a simples mudança de raquete pode alterar muita coisa. “Agora imagina se mudas a tua mentalidade”, completa. “Algo se passou com a cabeça dele. Roger Federer tem quatro filhos e continua a jogar a grande nível. A família importa, mas há que encontrar um equilíbrio”. A própria atitude no court também é alvo de reflexão. “Antes gritava, agora há partidas onde não expressa nenhuma emoção, não transmite atitude competitiva”.

“Só o ponho diante dos seus conflitos, não tenho problemas com ele”

Mudando depois o foco da análise para a sua relação com Nole, Obradovic explica que não tem receio de lhe dizer estas coisas diretamente, tal como as vê. “Novak tem um conflito consigo mesmo, não comigo. Só o ponho diante dos seus conflitos, não tenho problemas com ele”. Revelando de seguida uma conversa com o número 2 mundial. “Disse que pode estar chateado, mas não há torneio, court ou balneário em que se possa esconder de mim, dizer que não me quer ver. O Novak sabe que só quero o melhor para ele. Gosto muito dele, mas direi sempre o que penso. Ele sabe que pode contar sempre comigo para o que precisar”.