Thiem abre o coração: «Sinto um enorme vazio, caí num buraco e vamos ver se consigo sair dele»
Aos 27 anos, Dominic Thiem vive, possivelmente, o momento mais complicado da sua carreira. O tenista austríaco tem desistido de vários torneios de forma consecutiva, não só devido a problemas físicos mas também a um enorme desgaste mental que apresenta desde a conquista do US Open.
O número quatro mundial deu uma emocionante entrevista à Der Standard onde abriu o coração nesta fase mais difícil. “Sinto um enorme vazio, nem sequer vi os jogos da Champions League. Isto é uma tragédia. Não vi nenhum jogo de Monte Carlo”, começou por dizer.
E para todo este desgaste, muito contribuiu o tão desejado título do Grand Slam. “Quando ganhei o US Open estava num estado de euforia. Os resultados seguintes foram bons, cheguei à final das Finals mas preparar esta temporada… caí num buraco, vamos ver se vou conseguir sair. Não sei, espero conseguir. Estive 15 anos da minha vida à procura de um objetivo, sem olhar para nenhum lado. Assim que consegui, algumas coisas mudaram. A minha vida privada, o ter de lidar com muitas coisas, há horizontes que aumentaram. Precisas de fazer algo com a tua cabeça, o teu cérebro. Era só ténis, quero mudar isso”, confessou.
Thiem, que espera voltar à competição em Madrid, explicou o porquê de ter desistido de Miami, Monte Carlo e, agora, Belgrado. “No ténis não tens tempo de processar a vitória. Neste desporto, se não estiveres a 100% perdes. Isso foi o que me aconteceu em 2021. O nível é forte e os adversários são muito exigentes. Por isso, o melhor é não ir a torneios e voltar quando estiver melhor. Se tivesse ido a Belgrado ia perder na primeira ronda e a minha espiral negativa seria ainda maior. Preciso de sair disso. Prefiro estar em casa, não sou o primeiro, nem serei o último”, referiu.
E para esta fase tão negativa, muito contribui a Covid-19. “Creio que joguei um dos jogos mais memoráveis de toda a minha carreira contra o Kyrgios, recuperei de dois sets a zero. Foi um esforço enorme para um prémio tão curto. A atmosfera era incrível. Mas depois houve uma queda. De repente estava num balneário vazio, a suar e todo o recinto estava vazio. Parecia que tinha havido um incidente nuclear. Dois dias depois, contra o Dimitrov, joguei contra um estádio vazio e com um calor sufocante. Não soube lidar com a situação”.
“A Covid-19 tirou-nos muitas coisas boas, a começar pelas viagens, a liberdade. É difícil jogar semana após semana nestas circunstâncias. Há pessoas que se conseguiram adaptar a isto. Inclusivamente, para eles, conseguiram transformar numa vantagem o viver numa bolha”, concluiu.