Gastão Elias: «Sinto que ainda posso superar o meu melhor ranking (57.º), se não acreditasse deixava de jogar»

Gastão Elias: «Sinto que ainda posso superar o meu melhor ranking (57.º), se não acreditasse deixava de jogar»

Por José Morgado - março 22, 2020
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Gastão Elias vive, como quase todos os tenistas, tempos desafiantes. Depois de ter conseguido recuperar de diversos problemas físicos e numa altura em que se preparava para voltar a competir, o ex-top 60 ATP viu-se obrigado a parar, numa fase em que já apontava ao regresso ao circuito através do circuito ITF.

“Com o ranking em que estou, vou ter de começar por jogar torneios ITF. Mas faz parte do processo de regresso aos courts pois nos últimos tempos não consegui competir”, confessou Elias numa longa sessão de perguntas e repostas na sua página de Instagram, antes de assegurar que ainda sente ter dentro de si um nível de ténis que lhe permita superar o seu melhor ranking de carreira (57.º posto). “O meu melhor ranking ainda pode ser superado. A partir do momento em que achar que não tenho capacidade para isso, deixo de jogar. Ficar num ranking 120, 150, 200 não me motiva. Ou é para ir à grande, ou não é.”

E que torneio é que Elias gostaria de vencer? “Gostaria muito de ganhar qualquer Grand Slam ou qualquer ATP. Em Portugal, o Estoril seria sempre um dos principais objetivos. Já tivemos um português a fazê-lo e esperemos que não acabe por aí. Em relação aos Grand Slams, gosto muito mais do Australian Open do que dos outros todos. Roland Garros tem potencial incrível, mas podiam tratar melhor os jogadores. Wimbledon toda a gente devia ir uma vez na vida. É diferente, o cheiro a relva, uma experiência única. Acho que podia melhorar um pouco as infraestruturas. É tudo um pouco apertado. US Open tem melhorado bastante e tem um potencial incrível para ser o melhor.”

Elias está a fazer a sua quarentena no Brasil. “Vivo em Miami, mas neste tempos de quarentena decidimos vir para o Brasil. A minha mulher e toda a sua família são daqui. Sempre gostei da Florida. O clima é espetacular, está bom tempo o ano inteiro e há muitos jogadores que passam lá campo. O meu preparador físico também é de lá. Juntando tudo isso, é uma escolha boa viver em Miami.”

Gastão revelou o seu plano de treinos durante este período. “O meu preparador manda-me planos de treinos diariamente. Nesta fase ainda não faz grande sentido treinar ténis e mesmo que fizesse é complicado arranjar lugar para treinar a não ser que se arranje campo em casa de alguém. O nível de ténis vai voltar, mas em termos financeiros é difícil para todos os que não são tenistas de topo. O pessoal dos Challengers e Futures… vai ser complicado porque não podem competir, trabalhar. Muitos dão aulas para pagar viagens mas nem isso pode acontecer agora.”

Elias, de 29 anos, refletiu ainda sobre o momento do ténis português e confia em Rui Machado. “A Federação tem-me ajudado. O Rui Machado é a cabeça do Centro de Alto Rendimento. Pelo que sei, o Rui tem muito conhecimento, tem muitas ideias excelentes para dinamizar o ténis em Portugal e no momento se há uma pessoa que pode ajudar o ténis a crescer é ele, junto da sua equipa. Mas somos pequenos comparados com outras potências. Não se podem esperar top 100 a torto e a direito.”

Um dos melhores tenistas portugueses de sempre, Gastão assegura que ficará sempre ligado à modalidade. “Nunca vou desligar do ténis. Não sei em que funções depois. Ser treinador é sempre uma hipótese. Já lá vão quase 30 anos no ténis. Acharia injusto levar o conhecimento comigo e não partilhar com ninguém.”

Elias assume que, no ténis atual, o mental é cada vez mais relevante. “A parte técnica é cada vez menos importante. Ainda é muito, mas o mental é cada vez mais relevante. Olha-se para o top 20 e fica-se um pouco de boca aberta de perceber como determinado jogar chegou ali com a técnica que tem. Por exemplo o Medvedev, deixa o pessoal a pensar o que é que é uma técnica boa, o que é certo ou errado. É trabalho…”

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt