Fedal vs. Conselho de Jogadores 'de' Djokovic: o que está em causa da 'guerra' política do ATP?

Fedal vs. Conselho de Jogadores ‘de’ Djokovic: o que está em causa da ‘guerra’ política do ATP?

Por José Morgado - março 12, 2019

Habitualmente, o ténis é notícia pelos resultados históricos, pontos espetaculares, personalidades marcantes dentro e fora do court ou até por algumas polémicas que saltam do campo para as conferências de imprensa, mas nos últimos dias… a coisa tem mudado de figura, com uma verdadeira guerra de posições políticas a fazer manchetes dos principais sites da modalidade um pouco por todo o Mundo. Afinal de contas, o que divide e preocupa as principais estrelas do ténis mundial?

— O ATP Tour é presidido por um CEO escolhido pelo Conselho de Jogadores, que conta com mais de uma dezena de tenistas, ex-tenistas e atletas votados… pelos colegas. Os mandatos são de cinco anos e o atual, do britânico Chris Kermode, termina em 2019. O Conselho, presidido por Novak Djokovic (Kevin Anderson é o vice-presidente) decidiu não renovar o contrato de Kermode. A decisão foi oficializada na semana passada.

— Embora presida órgão, Djokovic não assumiu que a vontade de tirar Kermode do cargo tenha sido sua, embora nas entrelinhas deixe claro que foi um dos principais impulsionadores. ‘Nole’, de 31 anos, recusa-se a fazer qualquer comentário sobre o sentido do seu voto ou das suas ideias, vincando que as decisões do Conselho de Jogadores são totalmente confidenciais. Só que nem todos os jogadores respeitaram a confidencialidade e há muito que se sabia a vontade do Conselho de afastar Kermode, o que deixou Djokovic sempre… irritado.

— Do (muito pouco) que é sabido (Vasek Pospisil, um dos membros, escreveu alguns artigos sobre o assunto), o Conselho de Jogadores não vai renovar o contrato com Kermode por entender que o empresário britânico defendido mais o interesse dos torneios — e do grande poder — do que dos jogadores, nomeadamente daqueles que não integram o topo do ranking. João Sousa, em entrevista recente à Lusa, falou precisamente disso, alinhando-se ao pensamento do Conselho de Jogadores.

— Ainda antes de ser conhecida a decisão final — e precisamente porque foram passadas informações do Conselho para a imprensa (nomeadamente britânica) –, uma série de jogadores e treinadores revelaram estar contra a decisão de Kermode ser afastado. Rafael Nadal, Roger Federer, Stan Wawrinka, Magnus Norman, Lleyton Hewitt, Alex De Minaur e Judy Murray são apenas alguns dos exemplos. Os dois primeiros, há muito afastados de questões políticas depois de terem sido presidentes do Conselho, ofereceram-se para ser parte da decisão, entendendo que pelo seu estatuto devem ser ouvidos em momentos de importância como este. Segundo ambos, foram ignorados por Djokovic na hora de todas as decisões. Nole tem uma versão diferente, dizendo que os seus rivais de sempre tiveram muito tempo para falar com ele e nunca o fizeram…

— No caso de Roger Federer, mais do que uma questão pessoal, é uma questão de projeto. O suíço revelou preocupação por não ser claro qual o rumo que o Conselho de Jogadores quer para o ténis mundial, numa altura em que circuito é mais popular, mediático (e rico) do que nunca. O ATP Tour na era Kermode triplicou os prize moneys dos torneios, alterou a imagem do circuito e promoveu algumas campanhas inovadoras, como a dos NextGen, que incluiu a criação de umas ATP Finals… sub-21. A fechar o mandato, criou a ATP Cup, uma prova de seleções masculinas que já não será ele… a “estrear”.

— Os próximos tempos serão interessantes. Nadal e Federer estão alegadamente alinhados numa ideia daquilo que acreditam ser o melhor para o ténis e a sua tomada de posição pública pressiona Djokovic e os membros do Conselho a tomar uma decisão sobre que rumo tomar… e que novo presidente escolher. A manutenção de Justin Gimelstob, acusado de agressões nas ruas de Las Vegas, no Conselho — por votação dos próprios membros — não ajudou. Havia quem dissesse que Justin era o favorito para suceder a Kermode. Será?

O QUE FICOU EVIDENTE…

— Os últimos meses mostraram a importância que os bastidores — e a política — têm no ténis mundial, desde os escalões mais pequenos às mais altas instâncias. Foi assim na reforma do circuito ITF, na alteração dos rankings ATP e WTA, e também na revolução feita com a Taça Davis. Em todas as situações, os jogadores vieram falar… mas sempre tarde demais (aparentemente…)

 

 

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt