Antigo top 3 Guillermo Coria recorda carreira: «Uma montanha russa»

Antigo top 3 Guillermo Coria recorda carreira: «Uma montanha russa»

Por Tiago Ferraz - abril 27, 2020
coria

O antigo tenista argentino Guillermo Coria deu uma entrevista ao jornal do seu país La Nación onde abordou alguns episódios que marcaram a sua carreira e como tudo começou.

“Os meus pais casaram-se muito jovens. A minha mãe tinha 16 anos e eu nasci quando ela tinha 17. Foi deles que herdei o esforço. Não tínhamos casa fixa. O meu pai, professor de ténis, como todos nesse ramo, dependia do clima e dos alunos. Tinha épocas com dez aulas por dia e outras em que só tinha uma por semana e era assim que tinha que nos sustentar. A minha avó comprava-nos alguma roupa para sair e era só isso. Foi difícil. Por isso, quando assinei o meu primeiro contrato comprei uma casa para aliviar a pressão do aluguer”, disse ao La Nación.

O antigo número três mundial reconheceu que passou por muitas dificuldades e dá a conhecer como cresceu:

“Era distante, tímido. Esse facto tem a ver com o modo como cresci. Aos 13 anos fui para os Estados Unidos e não é a mesma coisa estar em tua casa ou noutro sítio. Vivia com 50 dólares por semana, tinha que cozinhar, ir ao supermercado, lavar a roupa, mandava cartas porque era quase impossível falar ao telefone e muitas vezes só tomava leite com cereais e comia uma sandes”, disse.

O argentino revela também como lidou com as fases menos positivas da sua vida e sempre conseguiu ultrapassar:

“Íamos competir à Europa e, como não tinha forma de pagar o hotel, ficava nos quartos dos meus colegas sem que dessem conta (no hotel). Tinha um daqueles tapetes para o Ioga e dormia no chão. Aguentei um ano e meio e quando voltei ao meu país deixei de jogar durante meses. Ainda assim, era a vida que queria, guardava tudo para mim, nunca demonstrava que estava triste. Quando me retirei comecei a ter um pouco mais de vida social. Antes era difícil porque quando ia a algum lado comer sentia-me observado. Todas essas coisas vão formando a tua personalidade. Quando me retirei, tomei algumas decisões surpreendentes como foi o caso de jogar um campeonato de futebol com pessoas que quase não conhecia. Conheci pessoas novas, fez-me muito bem”, disse.

A final de Roland Garros de 2004 marcou um momento menos feliz na história de Coria que recordou o dia em que perdeu o troféu para Gastón Gaudio:

“Estava tranquilo a nível tenístico, vi o Gastón no dia anterior e ele estava bastante incomodado. O meu único medo era que me viessem pensamentos negativos. Tudo o que se passou na final foi o que eu temia. O pior foi que o encontro parecia fácil. O pior que pode acontecer a um tenista é pensar. Eu não pensava no court. Olhava para o adversário e sentia que ele ficava incomodado quando mandava a bola para a sua direita. Vi o Gastón a falar, íamos com uma hora de encontro e o meu foco foi para outro lado. Tinha vivido muitas coisas más, como o doping, tinha que descarregar a adrenalina. Sentia ódio por muitas coisas que se passavam fora do ténis”, revela.

Jornalista de formação, apaixonado por literatura, viagens e desporto sem resistir ao jogo e universo dos courts. Iniciou a sua carreira profissional na agência Lusa com uma profícua passagem pela A BolaTV, tendo finalmente alcançado a cadeira que o realiza e entusiasma como redator no Bola Amarela desde abril de 2019. Os sonhos começam quando se agarram as oportunidades.