À conversa com Corretja: Os favoritos em Melbourne, os acasos com João Sousa e um jovem campeão a caminho

À conversa com Corretja: Os favoritos em Melbourne, os acasos com João Sousa e um jovem campeão a caminho

Por Susana Costa - janeiro 13, 2019

É um dos rostos do Eurosport que se prepara para nos entrar pelo ecrã durante os próximos quinze dias, trazendo-nos as novidades mais quentes do mais abrasador dos Grand Slams, mas foi através da calorosa voz de Alex Corretja que ficámos a conhecer as certezas, os talvez e até os impossíveis que o espanhol de 44 anos levou na bagagem para este Open da Austrália.

Num entrevista ao Bola Amarela, que se desenrolou pelos fios do telefone em véspera de viajar para Melbourne, o antigo número dois mundial e duas vezes vice-campeão de Roland Garros (1998 e 2001) falou sobre os principais candidatos e candidatas ao triunfo, revelou que tem mais em comum com João Sousa do que apenas a cidade de residência, Barcelona, e garantiu que o ténis se prepara para dar as boas-vindas um campeão do Grand Slam da nova geração. Palavra de Alex Corretja.

Com anos suficientes disto para saber que meter precipitadamente a taça na mão de um jogador sem que se olhe nos vários sentidos pode fazê-la cair ainda no decorrer do aquecimento, o antigo jogador dá favoritismo ao homem do momento, mas com cautela. “Novak Djokovic é um pouco mais favorito do que os outros, mas por ser o início do ano há muitos jogadores a ter em conta”, alertou Corretja. “Há jogadores que estão a recuperar e isso é muito importante, como é o caso do Kei Nishikori. O Kevin Anderson está a jogar a um grande nível e o Federer vai estar na luta, vamos ver como se comporta. Quanto aos mais jovens, vamos ficar atentos a Stefanos Tsitsipas, a Borna Coric e a Karen Khachanov, que são jogadores que dependem muito deles”.

 


Nos próximos sete, oito Grand Slams vamos ter um campeão diferente, um campeão da nova geração”.


 

E depois há os outros, os que Corretja considera que estão mais próximos de irromperem definitivamente pelo privilegiado mundo dos campeões de Grand Slams, cuja entrada tem sido barrada hábil e aguerridamente por Djokovic, Nadal e Federer. “Eles dominaram uma época muita competitiva, com recurso a um ténis muito difícil para os seus adversários, mas há jogadores da nova geração com muito talento. Têm é dificuldade em estabelecer o compromisso que é necessário para se ser um campeão Grand Slam. Há alguns, como o Alexander Zverev e o Dominic  Thiem, que estão a tentar com grande empenho. Há, de facto, jogadores que já estão preparados. Penso que entre este ano e o que vem, nos próximos sete,oito Grand Slams, vamos ter um campeão diferente, um campeão da nova geração”.

Olhando para o circuito vizinho, o ex-número dois mundial destaca a jogadora de sempre e duas jogadoras de agora. “Vai ser muito difícil de bater a Serena [Williams], o que acontece sempre que está a um bom nível”, frisou o campeão do então Estoril Open, em 1997, apontando, de seguida, a raquete às campeãs do torneio de Shenzhen (China), na semana passada, e do Open dos Estados Unidos. “Aryna Sabalenka é uma das jogadoras a que tem de se estar atento, é muito forte; tal como é Naomi Osaka – depois de ganhar em Nova pode também fazer um grande torneio na Austrália”.

 


“O Open da Austrália é propício a surpresas”


 

E onde é que entra a número um espanhola neste cenário? “O melhor nível da Garbine Muguruza é realmente muito, muito alto. Não consegue ser consistente durante muitas semanas por ano, mas quando joga ao seu melhor é capaz de ganhar um Grand Slam, como aconteceu em Roland Garros e Wmbledon. Neste momento precisa de recuperar o ritmo da competição para ganhar confiança nos seus movimentos, nas suas pancadas, e penso que vai conseguir voltar a ter um grande ano, depois de uma temporada menos boa, em que perdeu posições no ranking”, afirmou Corretja, referindo-se à queda da segunda para a 18.ª posição da hierarquia WTA, entre janeiro e dezembro de 2018.

Mas recuperar o ritmo competitivo não é, alerta o comentador do Eurosport, uma preocupação exclusiva da sua compatriota, até porque que o forte sol australiano, quando brilha, é para todos. “É um torneio do outro lado do mundo, com muito calor, os jogadores estiveram muito tempo sem competir e não têm muitos torneios para se adaptarem”, enumerou Corretja. Esta dificuldade de adaptação às condições tórridas de Melbourne “é igual para todos”, assim com “a falta de ritmo de competição, o que torna o Open da Austrália propício a surpresas”, aponta.

 


“Eu e o João Sousa cortamos o cabelo no mesmo cabeleireiro”


 

A pergunta mal tinha começado a ser feita e já Corretja se adiantava, para nos dizer que não só assistiu à vitória de João Sousa diante de Denis Shapovalov, em Auckland (Nova Zelândia), como para nos fazer crer que João Sousa é um assunto que domina. “Sim, sim! Ganhou 6-4 no terceiro set, foi um grande encontro, que acabou com uma direita fabulosa”, apontou, de sorriso na voz, o campeão de 17 títulos ATP.

Os pontos em comum com o número um português, confidenciou, vão muito para além da conquista de um troféu em solo nacional (Corretja em 1997, João Sousa em 2018). “Conheço muito bem o João, ele vive a cinco minutos da minha casa e cortamos o cabelo na mesmo cabeleireiro, o que é uma grande pontaria”, reconheceu, divertido.

“Conheço-o muito bem profissionalmente também, vejo-o treinar, é um grande trabalhador e tem melhorado muito”, acrescentou o antigo tenista, elogiando a raça e a versatilidade do vimaranense de 29 anos. “Tem uma grande direita, é muito competitivo e joga bem em todas as superfícies, o que é muito importante no ténis”, concluiu aquele que era um dos maiores especialistas de terra batida da sua geração.

Descobriu o que era isto das raquetes apenas na adolescência, mas a química foi tal que a paixão se mantém assolapada até hoje. Pelo meio ficou uma licenciatura em Jornalismo e um Secundário dignamente enriquecido com caderno cujas capas ostentavam recortes de jornais do Lleyton Hewitt. Entretanto, ganhou (algum) juízo, um inexplicável fascínio por esquerdas paralelas a duas mãos e um lugar no Bola Amarela. A escrever por aqui desde dezembro de 2013.